terça-feira, 22 de março de 2011

Para onde foi a sua alegria?

::Patricia Gebrim::



No meu entender, o maior sinal de sanidade que podemos ter é a nossa capacidade de sentir alegria, que é esse sentimento que nos deixa leves, mais próximos da criança que habita em nós, que nos faz ter uma visão positiva do mundo, que nos conecta com as coisas boas que existem ao nosso redor.

Quando estamos alegres somos mais gentis com nosso próprio ser, nos permitimos ouvir músicas de que gostamos, nos permitimos mover o nosso corpo com entusiasmo, tornamos nossa vida mais colorida. Mas não è só isso... Quando estamos alegres também somos mais gentis com os outros. Sorrimos mais, temos mais paciência e tolerância, somos mais generosos em nossas atitudes.

Não adianta termos uma vida cheia de coisas que queremos se o preço para obtê-las é a nossa alegria. Porque no final é mais ou menos isso o que acontece. Criamos vidas tão complicadas e atarefadas que acabamos sobrecarregados, e a nossa alegria fica lá, soterrada embaixo disso tudo, sem conseguir espaço para nos fazer sorrir.

Experimente isso: saia para passear num dia lindo de sol, sinta a oportunidade de se perceber leve, solto, movido pelo prazer de buscar contato com a natureza. Sinta a alegria movendo cada um de seus passos.

Agora tente fazer o mesmo levando com você seu laptop, uma mochila cheia de roupas, as pastas com os contratos que terá de assinar no dia seguinte, o livro de leitura que terá de levar para seu filho mais tarde, as frutas que comprou no supermercado, etc. etc.

Será que vai aproveitar o passeio da mesma forma? Os braços ocupados, as costas arqueadas sob todo aquele peso. Sinta isso... Será que você vai conseguir sentir o vento agitando seus cabelos? Vai perceber a forma sutil como as nuvens se dissolvem ao vê-lo passar? Claro que não!

Apesar de o caminho ser exatamente o mesmo, você provavelmente se sentirá irritado, com as costas doendo pelo peso da mochila, a mente apressada, andando à sua frente
sem perceber o momento presente. Impossível sentir alegria dessa maneira! E é exatamente assim que a maioria das pessoas vive as suas vidas nas grandes cidades,
nos dias de hoje.

O que fazer então? Abandonar tudo? Jogar o laptop de cima da ponte? Fazer uma linda fogueira com os contratos? Jogar as frutas e fazer greve de fome? Abandonar a família e virar um eremita?

Novamente... CLARO QUE NÃO! Mas talvez você possa abrir espaços no meio do seu dia para celebrar a alegria. A alegria precisa de leveza, de mãos soltas, livres de tanta carga, precisa de uma mente livre de tantos pensamentos. Precisa de momentos de contemplação. A vida não pode ser só ação. É preciso espaço para a contemplação.

É na contemplação que alimentamos a nossa alma. Não há alegria sem alma.

Se você quer a sua alegria de novo, terá de lutar por ela, abrindo espaço em sua agenda, como uma pessoa perdida na selva precisa abrir caminho até encontrar o rio
que pode matar a sua sede. Entenda que a sua vida não é algo que simplesmente acontece a você, como se você não tivesse nada a ver com isso. Você faz parte da sua vida! Você a cria a partir das escolhas que faz. Inclua a alegria nas suas escolhas. E entenda que se você recuperar a alegria, todo o resto de sua vida fluirá melhor,
com mais leveza e menos nós.

A alegria é a verdadeira "desatadora de nós", acredite!

quarta-feira, 16 de março de 2011

A caricatura da vida

::Simone Arrojo::



Sabe aquelas caricaturas engraçadas de pessoas que às vezes tem um queixo um pouquinho grande e na caricatura aparece completamente exagerado? O caricaturista exalta e exagera características marcantes das pessoas mostrando, através da imagem, quem ela realmente é. A vida nos desenha episódios da mesma maneira, exagerando nos fatos e acontecimentos para tomarmos consciência de quem realmente acreditamos que somos. Eu digo acreditamos porque nos deixamos invadir por crenças e opiniões alheias e acreditamos nisso sem buscarmos a nossa verdadeira identidade.

Sabe aquelas inseguranças íntimas, que não temos coragem de contar para ninguém? Pois é, a vida as faz aparecer de modo exagerado para que possamos curar, refletir e mudar essas inseguranças. Tudo começa quando nos incomodamos com algo em alguém ou por alguma situação. De repente ficamos com raiva, indignados e nos sentindo vítimas de situações que não nos fazem bem, porém não conseguimos nos desvencilhar dela. Quando isso acontece, é importante que identifiquemos logo o que devemos aprender com aquela situação para não ficarmos sofrendo e nos sentindo vítimas. Quem de nós nunca passou por situações semelhantes, e nos pegamos esbravejando: O que eu fiz para merecer isso? Por que fui cair justamente nessa família? Sempre arrumo chefes ignorantes!!, etc..

Na verdade, TODOS os acontecimentos das nossas vidas refletem TUDO o que sentimos internamente, de modo mais EXAGERADO, para que possamos realmente perceber e aprender as lições. Porém, como vivemos meio dormentes, não conseguimos enxergar isso e começamos a culpar o outro, quando o acontecimento é ruim e nos tornarmos arrogantes quando os acontecimentos são bons.

Vejamos, se conseguimos fazer um grande projeto dar certo... EU FIZ. Se aquele projeto deu errado, foi por causa do chefe, do homem da fábrica, do destino, etc...

A doença, nada mais é do que o exagero do desespero interior.
Ficamos doentes porque não estamos enxergando os conflitos emocionais e lá vem a vida de novo exagerando o conflito, colocando dores e, literalmente, sentimos na pele esse resultado.

Para realmente vivermos a vida de forma sábia, precisamos saber reconhecer que tudo é reflexo de nossos sentimentos e crenças interiores.

Se você arrumou alguém como parceiro que não te valoriza, que te diz palavras e frases que deixam a sua auto-estima lá embaixo, preste atenção em suas palavras e verifique se não é exatamente aquilo que você acha de si mesmo.

As outras pessoas conseguem captar nossas inseguranças e interagem de forma às vezes cruel e exagerada, nos agredindo para acordarmos.. É quase que matemático e racional.

Uma vez, em uma consulta, uma pessoa reclamava muito da forma como as pessoas a tratavam e como isso a incomodava. Então pedi a ela que fizesse uma lista das formas e palavras que estas pessoas utilizavam. Ela fez a lista com muito gosto, sentindo-se a vítima da situação, pensando que eu fosse ajudá-la a crucificar estas pobres pessoas. Quando ela me mostrou a lista, havia insinuações de que ela era indisciplinada, gorda, relaxada e folgada. Eu perguntei a ela se, no fundinho, ela se achava com aquelas características. Ela fechou os olhos e chorou copiosamente uns 15 minutos. Quando ela parou de chorar a primeira frase que ela disse foi: A vida é mágica.

E a vida é mágica mesmo!!! Ela traz acontecimentos para nos ajudar a crescer. Agora, quanto mais nos conhecemos por iniciativa própria, menos sofrimento e dor são necessários para o nosso aprendizado.

Como nesse planeta Terra somos a primeira escala da razão, ainda temos muitas coisas emocionais para serem transferidas do modo analógico para o digital e isso leva algum tempo. Quanto mais utilizamos o nosso racional para nos ajudar a entender sentimentos e atitudes primitivas, mais crescemos.

Por isso, faça uma lista de acontecimentos bom e ruins para ajudá-lo(a) na identificação de dificuldades que precisam ser trabalhadas. Exemplos:

Bons:

As pessoas sempre são minhas amigas
Aonde eu vou as pessoas abrem as portas
Meu cachorro me adora
Meus filhos me admiram
Todos na empresa acham que eu deveria ganhar mais, etc

Ruins:

Meu marido me acha barriguda
A minha vizinha diz que sou fofoqueira
Ninguém me valoriza nessa empresa, na que eu estava aconteceu a mesma coisa, etc..

Com essa lista, você pode escolher ser a vítima ou the best. Se eu fosse você agradeceria por enxergar tudo isso e escolheria ser humilde: nem julgadora pelos seus defeitos, nem arrogante pelas suas coisas boas. Simplesmente verdadeiro com você mesmo(a). Não existe coisa melhor nesse mundo do que enxergar a própria verdade.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Num belo dia... viramos abóboras!!

::Sonia B. Hoffmann::



Quantas e quantas vezes ficamos "matutando" para fazer e dizer as coisas certas e tentar evitar o máximo possível polêmicas, melindres, mágoas e insatisfações desnecessárias ou improdutivas naquele momento em nosso ambiente familiar, laboral e social?

Para isto, não raro lançamos mão de silêncios, desculpas, afastamentos e até mesmo da tão conhecida "mentirinha piedosa" a fim de amenizar situações. Nem sempre, no entanto, estes nossos estratagemas são interpretados pelas outras pessoas da mesma forma ou mesmo objetivo pelo qual os adotamos e a confusão está feita! Na maioria das vezes, elas ficam melindradas conosco e, prontamente, a imaginação fértil é detonada em algum ponto da inteligência, e porque não do instinto, surgindo verdadeiras pérolas de elocubrações, fantasias ou quaisquer outras hipóteses - menos aquelas razões que realmente sustentam o nosso comportamento.

Diremos, então, que não somos compreendidos e, muitas vezes, nos colocamos em uma posição de vitimização e mesmo de mártires, desconhecendo a enorme dificuldade dos outros em decodificarem o lógico, o óbvio. Tal qual uma bola de neve, comportamentos contraditórios chocam-se e vão aumentando o distanciamento. Aparecem novas mágoas, surgem diferentes desculpas e as melancias desajeitam-se no andar da carruagem... e deixamos de ser príncipes ou princesas, tornando-nos abóboras que devem ser atiradas aos porcos ou serem decoradas para o festejo do Dia das Bruxas.

Em algumas circunstâncias, contudo, muitos de nós nos impactamos diante da reação do familiar magoado, do colega despeitado, do companheiro entristecido frente a nossa conduta, opinião ou da pretensa "desfeita". Digo impactados porque a nossa intenção realmente não foi a de causar mágoa, despeito, tristeza. Justamente o oposto. Para evitar a discórdia, a insatisfação ou a opressão em fazermos algo que não temos nenhuma vontade ou por considerarmos que aquele evento irá resultar nestas possibilidades, adiamos a decisão ou abrimos um espaço para que o outro não realize a ação ou a repense. a partir da sua própria iniciativa. Tentamos abrir um espaço onde também esta pessoa perceba-se como um ser tão falível quanto nós e com a habilidade para o entendimento e a reorganização de seus planos, perspectivas e convites - considerando sempre que também temos direito ao livre-arbítrio e à vontade ou não de fazer, dizer ou pensar alguma outra coisa que não seja somente aquilo que esperam de nós.

Me questiono, porém, se não estamos sendo muito exigentes com o outro em sua capacidade de compreensão e captação de nossos motivos, para além daquilo que julgam ter ouvido ou visto. A fim de não enveredar pelos caminhos e descaminhos de intrigas, controvérsias, embates e julgamentos estressantes, uma atitude interessante e inteligente não seria a exposição com serenidade, prudência e honestidade das nossas razões, sem a busca constante de subterfúgios?

Há pessoas que não gostam de palavras cruzadas, que não sabem ou não querem brincar de quebra-cabeças e que não permitem-se alargar seu poder de sensibilidade. Ou seja, há pessoas que desconhecem um mundo fora do seu mundo. Portanto, se não é possível uma conversa franca e direta espontaneamente, quem sabe nos munimos com diferentes modos de ser o mais verdadeiros através do tom de voz, da argumentação simples, da
aceitação de que desentendimentos e recusas irão certamente em algum momento acontecer e de que, nem por isto, precisamos estremecer relações, enfartar ou agir tal qual criança mimada e acabar com a brincadeira, levando embora a bola ou a boneca.

Então, ao invés daquela mentirinha de que estamos com "uma dor de barriga sideral", dizemos simplesmente "sei que um encontro entre nós será ótimo, mas sou alérgica a pelos de cachorro e estou estressada para ouvir gritos... por que não fazemos o encontro aqui em casa ou em um local mais silencioso?" Ou, em lugar de fecharmos a questão em "já tenho um outro compromisso", ponderamos apenas "um almoço reunindo toda a família é uma ideia bastante interessante, mas para evitar os constrangimentos já acontecidos em outros eventos, não será melhor pensarmos em promover atividades lúdicas para motivar a participação de todos e desmotivar o surgimento do tédio e da fofoca?".

Uma vez, li em algum dos textos de Rubem Alves que deveríamos ter em nossa sala uma caixa de brinquedos. Entendo que, quando as visitas chegassem, a conversa fosse esmorecendo e desvirtuasse para pontos desagradáveis, prudentemente tiramos uma carta da manga e tchan-tchan-tchan... abrimos a tal caixa e de lá saltam piorras, baralhos, dominó, damas, carrinhos de brinquedo, bonecas de pano, fantoches e tantas e tantas outras criatividades. Que divertido será então o nosso encontro. Já estou até ouvindo as risadas, as apostas, as entonações de artistas, mágicos, cantadores e encantadores!

Assim, caríssimos e caríssimas, será que não podemos deixar a vida ser conduzida de maneira mais leve, franca e menos angustiante; com menos queixas, com menos medos e mais alegria e oportunidades de crescimento?