domingo, 23 de junho de 2013

O que te prende ao passado?

::Sandra Trovo::




Ouço muitas pessoas dizerem que não conquistam um bom emprego, que não tem um parceiro ou uma parceira, que a vida não flui e são tantas queixas que nem preciso tecer mais comentários porque você já tem os seus, certo?

Daí elas vivem justificando que os relacionamentos não fluem atualmente porque lá no passado aconteceu, isso, aquilo e aquilo outro, ou que no emprego anterior o chefe era chato, insuportável, incompreensível e hoje o emprego atual também é chato e resumindo as queixas:

- sempre vai ter alguém ou alguma coisa para implicar e sacramentar o mesmo que viveu lá no passado.

Traduzindo tantas queixas, elas não conseguem desfrutar o presente por causa de algo que aconteceu no passado e você pode me perguntar:

- Como assim?

-Vamos lá compreender como o passado age na sua vida presente.

Muitas vezes alguém é humilhado, seja por um chefe ou por seu parceiro (a) e simplesmente decide naquele exato momento não responder por medo de perder algo. Porém, quando falamos em responder não é soltar alguns daqueles palavrões e sim argumentar ou então esclarecer o porquê e o que está acontecendo. Daí, o inevitável acontece:

-O sapo fica entalado na garganta, não sobre e não desce!. A partir deste momento a mágoa pode ser inevitável e como algo aconteceu no passado quando não tive determinada atitude, essas pessoas carregam a certeza de que acontecerá novamente.

O mesmo pode-se dizer sobre uma pessoa que em algum momento da sua vida teve uma atitude lamentável, fez algo que julgou ruim e não foi lá consertar a situação. Como fez algo que lamenta, está certa de que será uma pessoa má para sempre.

-Vamos aos exemplos clássicos:

-Como um dia alguém lhe fez algo, acusa essa pessoa por sua vida não ser como gostaria.

-Como numa antiga experiência foi maltratada, nunca esquecerá ou perdoará.

-Como não foi convidada para aquela festa dos seus sonhos, então hoje não se permite gozar a vida.

-Como na primeira apresentação em sala de aula se saiu mal quando falava, ficará eternamente apavorada cada vez que tiver que falar em publico.

-Como seu primeiro relacionamento terminou, não estará mais aberta ao amor e só irá atrair relacionamento já falidos.

-Como uma vez ficou magoada com a observação de uma pessoa não confiará mais em ninguém.

-Como era pobre quando criança jamais poderá ser uma pessoa bem-sucedida e quando tiver algum dinheiro terá de gastar para prevalecer sua crença.

O que frequentemente você pode recusar a perceber é que manter-se preso ao passado, não importa qual tenha sido e por mais horrível que tenha sido só magoa a si mesmo.

Você do passado, na verdade não se importa. Geralmente você lá no passado nem tenha consciência do que fez.

Você do presente é que está se machucando pelos atos que julga, porém lembre-se que lá no passado você fez o que sabia, fez como tinha que ser feito e se hoje você julgar qualquer que seja a situação do passado estará sendo cruel consigo mesmo. Portanto, aprenda a viver o hoje e tire o melhor proveito das experiências que viveu.

Lembre-se: o passado é passado e não pode ser mudado. O único instante que pode ser vivido é o de hoje, o seu momento presente. Mesmo quando reclamar sobre o passado, estará somente vivenciando a lembrança que tem dele neste momento e com isso perderá a real oportunidade do momento presente.

Agora, vamos soltar o passado?

-Permita que as lembranças sejam apenas lembranças, desprenda-se do envolvimento emocional ligado a ele.

-Para deixar que as lembranças sejam apenas lembranças, lembre-se de situações do passado em que não existe nenhum envolvimento emocional.

-Faça uma lista das coisas que está disposto a soltar:

-qual a intensidade de sua disposição para soltar o passado?

-você realmente quer se libertar?

-note suas reações, o que você terá que fazer para se libertar desse envolvimento?

-qual seu nível de resistência?

Muitas vezes se desprender de emoções, sentimentos, ressentimentos, e várias outras emoções, pode ser doloroso, mas sempre serão lembranças passadas e jamais voltarão.

Reflita:

Você acredita que deixar de desfrutar o presente por causa de algo que aconteceu no passado é seu destino?

Solte-se - Liberte-se e viva plenamente Hoje.


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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Vamos discutir ou conversar?

:: Bel Cesar ::




Foi dada a partida: uma nova discussão teve seu início com uma sentença acusativa. Quem escuta sente-se agredido e, na maioria das vezes, responde na mesma moeda. Esse infértil debate de "quem está fazendo o que a quem" gera apenas mais indignação e desconforto. Desta forma, o que parece uma conversa, na realidade, é apenas uma descarga emocional, quer dizer, uma sequência de monólogos carregados da frustração de emoções não digeridas.

Uma discussão pode se tornar uma boa conversa. Mas para tanto é preciso cultivar um interesse genuíno em melhorar nossos relacionamentos.

Quem quer só acusar não está interessado em ouvir. Sem escuta não há conversa. Então, para que discutir se não quer chegar a lugar nenhum?

Se a situação já está ruim, uma discussão baseada em acusações pode ainda piorá-la. A base de uma discussão saudável encontra-se na motivação com a qual ela deu início. Queremos discutir para mudar para melhor ou apenas para desabafar nossa indignação? Se a intenção for melhorar, podemos conversar, do contrário, é melhor parar: depois que ambos expuseram suas queixas, é preferível dar um tempo para sentir e refletir sobre o que foi dito.

Quando uma discussão está baseada apenas na indignação, torna-se uma avalanche de reações. Não há tempo para sentir a empatia necessária para gerar um novo entendimento. Não há espaço de escuta quando a prioridade é defender-se. Enquanto o outro fala agressivamente, aquele que escuta só tem tempo para elaborar sua defesa. Como ouvir o outro verdadeiramente se a concentração está voltada para atacá-lo de volta?

Por exemplo, quanto mais tentarmos coagir o outro a mudar, de acordo nosso ponto de vista e necessidades emocionais, mais frieza emocional e distância física desencadearemos entre ele e nós. Pois, ele, intuitivamente, irá se distanciar para poder encontrar clareza em seu posicionamento.

A armadilha da chantagem emocional tem suas consequências: os relacionamentos tornam-se artificiais na medida em que precisam seguir regras impostas por um dos parceiros.

Muitas vezes, exigimos do outro o que não foi acordado previamente. Ironicamente, quanto maior a entrega afetiva, maior são as exigências! Sem nos darmos conta, projetamos idealismos e expectativas exageradas nos relacionamentos à medida em que eles se tornam mais íntimos... Nem sempre ouvimos o que queremos ouvir!

Uma coisa é defender-se do outro, outra é buscar por solução. O caminho está em encontrar uma saída em vez de criar uma constante briga de forças, para ver quem tem mais razão.

Se quisermos discutir com a intenção de solucionar um conflito, teremos que rever nosso posicionamento, seja de dominador, seja de dominado (papel de vítima). Pois, ironicamente, o agressor agride porque se sente agredido e a vítima reage de forma agressora. Quando uma discussão está baseada na intenção de controlar o outro, ambos se sentem sufocados. Para superar um atrito é preciso deixar de lutar. Mas isso não quer dizer se deixar abater.

O que desejamos pode estar certo e ser válido, mas ainda assim, não podemos impor aos outros a nossa demanda. Podemos ter clareza sobre nossas necessidades emocionais, mas ao mesmo tempo, se nos colocarmos de modo exigente, impondo ao outro os cuidados sobre nossa vulnerabilidade, desencadearemos mal-estar e em nada ajudará a situação a mudar.

Revelar ao outro nossa vulnerabilidade é saudável; o que não funciona é transferir ao outro a responsabilidade de zelar por nosso bem-estar. Quando tentamos repassar os cuidados de nossa vulnerabilidade para outro, este gradualmente perde admiração por nós, pois, inevitavelmente, irá se sentir sobrecarregado ao ter que gerir todas nossas frustrações e incapacidades, mesmo que temporariamente.

Se quisermos ter relacionamentos saudáveis teremos que abandonar a atitude de autopiedade. Ficar no papel de vítima é uma armadilha perigosa, pois nos tornamos facilmente reféns da disponibilidade afetiva do dominador. Transferimos a ele as condições que irão nos gerar tanto tensão como alívio. É sempre a velha história baseada na co-dependência, isto é, quando saberemos o que vamos sentir conforme o outro estiver sentindo. Se ele estiver afetivo e de bom humor "estaremos" felizes, caso contrário, teremos que aguardar por sua disponibilidade...

É claro que estar ao lado de uma pessoa mal-humorada gera desconforto. Mas, mesmo assim ainda podemos preservar nosso equilíbrio interno. Nestes momentos, é importante saber gerar um distanciamento saudável. Tal como fazemos ao nos aproximar do fogo: intuitivamente sabemos a distância correta para gerar calor e conforto e quando o seu excesso pode nos queimar!

Toda discussão tem um ponto de partida, mas raramente ele é a causa desencadeadora do conflito. Enquanto não abrirmos o jogo do porquê realmente estamos incomodados, o outro irá se sentir (mesmo que inconscientemente) manipulado. Sem saber o porquê original de toda discussão, ele reagirá contraindo-se, perdendo sua espontaneidade.

Nestes casos, podemos seguir o conselho do psicólogo John Wellwood: "O melhor jeito de terminar com esse tipo de contenda de poder é convidar o parceiro a sair das luzes do palco e vir conosco para os bastidores. Quando duas pessoas permitem uma à outra o acesso ao que se passa nos bastidores, elas começam a elaborar um laço mais profundo e solidário. E é isto que as ajudará a porem fim aos socos entre seus egos". (Alquimia do Amor, Ed. Ediouro). Nestes momentos de abertura é importante não tentar consertar ou melhorar nada. Não é preciso concordar nem discutir. Apenas admitir as dificuldades.

Estranhamente, o mesmo ocorre interiormente: nos momentos de maior tensão emocional costumamos nos distanciar de nós mesmos. Ao invés de sentirmos nossas emoções, costumamos rejeitá-las. Como isso ocorre? Quando nos tornamos reativos às nossas próprias emoções. Ainda que desconfortáveis, podemos olhar nos bastidores de nossa dor emocional. Revelar para nós mesmos o que se passa por trás de nossa indignação. Há um momento em que temos que parar de tentar nos consertar, pois quanto mais implicamos conosco mesmos, mais solidez iremos gerar em nossos conflitos.

É preciso superar o hábito de separar-se de si mesmo. Isto ocorre quando vemos nossa falta interna como uma falha ao invés de reconhecê-la como mais uma etapa de percepção natural do caminho do autoconhecimento. Aqui há uma briga interna entre o que sentimos e não queremos sentir. É preciso deixar de sermos reativos a nós mesmos para superarmos uma angústia emocional.

A emoção não é uma experiência estática. O que parece nos desequilibrar num certo momento, pode ter um efeito menos dramático em outro. A clareza de que podemos perceber uma mesma emoção de formas diferentes nos ajuda a não antecipar nossas avaliações. Quanto mais reagimos aos nossos pensamentos, mais sólido eles se tornam.

A questão é que aprendemos mais o pensar do que o sentir. Nos tornamos inseguros para lidar com nossas próprias emoções porque desenvolvemos um conhecimento intelectual que não é capaz de tocar nossa experiência interna. Por isso, diante de uma discussão nem tudo o que dizemos ou escutamos é capaz de surtir o efeito almejado. Mas não devemos desistir. Pois só interagindo é que aprendemos a arte de nos comunicar.

É saudável aprender a lutar. Se nos tornarmos passivos diante de um ataque agressivo nos tornaremos cada vez mais fracos e vulneráveis à agressão alheia. Assim como o médico Dr. Rüdiger Dhalke nos lembra em seu livro "A agressão como oportunidade" (Ed. Cultrix) sobre o que ocorre com o câncer: "a defesa do corpo não identifica as células cancerígenas como estranhas ou perigosas e por isso as deixa à vontade..." É saudável nos defender!

Para concluir, podemos guardar um alerta dado por Dr. Rüdiger Dhalke: "Onde recusamos a enfrentar um problema, ele nos será ensinado contra a nossa vontade". A coragem em lidar com os confrontos e defender nossos projetos, princípios e valores desperta o instinto de força e vida.


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