quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Que no próximo ano...

::Maurício Louzada::



Que o próximo ano seja um ano especial, cheio de conquistas, mas que com cada uma delas venha uma nova percepção do que realmente é ser feliz.

Que você consiga uma casa maior, mas que quase todos os cômodos fiquem vazios por sua família estar unida ao redor de uma única mesa.

Que você compre o carro dos seus sonhos, e descubra que ele pode ficar parado na garagem enquanto você caminha de mãos dadas por um parque.

Que você realize o desejo de comprar uma TV enorme, 3D, com home theater, mas que ela permaneça desligada durante o jantar, para que você possa ouvir como foi maravilhoso o dia da sua família.

Que sua conta bancária esteja satisfatoriamente recheada, mas sobretudo, que você tenha em seu bolso um ou dois reais para comprar algodão doce e saboreá-lo sujando os dedos.

Que você tenha um excelente plano de saúde, mas que se esqueça que ele existe por não precisar usá-lo.

Que você jante em badalados restaurantes para descobrir que a maior chef que existe, cozinha todos os dias dentro da sua casa.

Que sua internet trafegue em altíssima velocidade, mas que sua melhor rede seja aquela pendurada entre duas árvores, onde você possa ouvir os pássaros cantarem.

Que você tenha um smartphone de última geração, mas que não precise usá-lo para dizer às pessoas mais importantes da sua vida o quanto elas são especiais.

Que você tenha um tablet, mas que use mais as pontas dos seus dedos para fazer cafunés do que para mandar e-mails.

Que você possa comprar boas roupas, bolsas e relógios, mas que sua verdadeira marca seja a "inspiração" deixada pelos lugares por onde passará.

E que assim, conquistando tudo o que você sempre quis, você descubra que mais importante do que aquilo que você tem, é o que você faz com tudo o que conquistou.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O amor fere e outros mal-entendidos...

::Osho::



O amor nunca fere ninguém. E, se você está se sentindo ferido pelo amor, é sinal de que existe outra coisa em você, que não é o amor, que está provocando essa dor. A menos que veja isso, você vai continuar se movendo em círculos.

O que você chama de amor pode ocultar muitas coisas nada amorosas em você; a mente humana é muito astuta, muito sagaz, quando se trata de enganar os outros e também a si mesma.

A mente coloca rótulos bonitos em coisas feias, tenta cobrir as feridas com flores. Essa é uma das primeiras coisas que você tem que investigar, se quer entender o que é o amor.

O "amor", no sentido que as pessoas costumam usar essa palavra, não é amor; é luxúria. E a luxúria sempre acaba ferindo, porque desejar alguém como um objeto é o mesmo que ofender essa pessoa. É um insulto, é uma violência.

Quando você se aproxima de alguém com luxúria, quanto tempo consegue fingir que isso é amor? Algo que é superficial vai parecer amor, mas basta arranhar um pouquinho a superfície para encontrar pura luxúria.

A luxúria é animalesca. Olhar para alguém com luxúria é um insulto, é humilhante, é reduzir a outra pessoa a uma coisa, a uma mercadoria. Nenhuma pessoa gosta de ser usada; essa é a pior coisa que você pode fazer com alguém. Ninguém é uma mercadoria, ninguém é um meio pelo qual se conseguir alguma coisa.

Essa é a diferença entre luxúria e amor. A luxúria usa a outra pessoa para você satisfazer alguns dos seus desejos. O outro é apenas usado e, quando ele deixa de ter utilidade, é descartado. Ele se torna inútil; a sua função foi preenchida. Esse é o ato mais imoral da existência: usar o outro para se conseguir alguma coisa.

O amor é justamente o oposto: respeitar o outro como um fim em si mesmo. Quando você ama alguém como um fim em si mesmo, não existe essa sensação de dor; você se enriquece por meio desse sentimento. O amor torna todo mundo rico.

Em segundo lugar, o amor só pode ser verdadeiro se não houver um ego por atrás dele; do contrário, o amor se torna uma viagem do ego. Trata-se de um jeito sutil de dominar.

E a pessoa precisa estar muito consciente, porque esse desejo de dominar está enraizado lá no fundo. Ele nunca aparece como é; vem sempre enfeitado, bem ornamentado.

Os pais nunca dizem que os filhos pertencem a eles, nunca dizem que querem dominar os filhos, mas isso é na verdade o que eles fazem. Dizem que querem ajudar, dizem que querem que eles sejam inteligentes, saudáveis, felizes, mas – e esse "mas" é um grande "mas" – tudo isso de acordo com a ideia que fazem do que seja inteligente, saudável e feliz.

Até a felicidade dos filhos tem que ser decidida de acordo com a ideia dos pais; os filhos têm que ser felizes de acordo com a expectativa dos pais.

Os filhos têm que ser inteligentes, mas ao mesmo tempo obedientes. Isso é pedir o impossível! A pessoa inteligente não pode ser obediente; a pessoa obediente tem que abrir mão de parte da sua inteligência.

A inteligência só pode dizer "sim" quando está plenamente de acordo com você. Não pode dizer "sim" só porque você é maior, mais poderoso e cheio de autoridade – um pai, uma mãe, um padre, um político.

Eu não posso dizer "sim" só por causa da autoridade que você tem. A inteligência é rebelde, e nenhum pai quer que o filho seja rebelde. A rebelião vai de encontro ao seu desejo secreto de dominação.

Os maridos dizem que amam a esposa, mas isso não passa de dominação. Eles são tão ciumentos, tão possessivos! Como podem ser amorosos? As mulheres vivem dizendo que amam o marido, mas passam 24 horas por dia fazendo da vida dele um inferno; de todas as maneiras possíveis, elas estão reduzindo o marido a uma coisa feia.

O marido dominado é um fenômeno muito feio. E o problema é que, primeiro, a esposa reduz o marido a um escravo e depois perde o interesse por ele; afinal, por que ela continuaria interessada por um homem dominado? Ele não parece alguém digno; não parece um homem de verdade.

Primeiro o marido tenta fazer da mulher apenas um objeto que lhe pertence e, depois que ela lhe pertence, ele perde o interesse. Existe uma lógica oculta nisso: o único interesse dele era possuí-la; agora já a possui e ele gostaria de tentar fazer o mesmo com outra mulher, para que possa continuar indefinidamente com esse jogo de possessão.

Cuidado com essas elucubrações do ego. Depois você se machuca, pois a pessoa que você está tentando possuir fatalmente se revoltará de um jeito ou de outro, acabará sabotando os seus truques, as suas estratégias, porque não existe nada que as pessoas amem mais que a liberdade.

Até mesmo o amor vem depois da liberdade; a liberdade é o mais elevado bem. O amor pode ser sacrificado pela liberdade, mas a liberdade não pode ser sacrificada pelo amor. E isso é o que temos feito há séculos, sacrificar a liberdade pelo amor. Existe, portanto, um antagonismo, um conflito, e o casal aproveita qualquer oportunidade para ferir um ao outro.

O amor na sua forma mais pura é alegria compartilhada. Ele não pede nada em troca, não espera nada; então, como você pode achar que ele machuca? Se você não tem expectativas, como pode se machucar?

Porque tudo o que vier será bom e, se nada vier, será bom também. A sua alegria foi dar, não receber. Desse modo você pode até amar a uma distância de milhares de quilômetros, não precisará nem mesmo estar fisicamente presente.

O amor é um fenômeno espiritual; a luxúria é física. O ego é psicológico; o amor é espiritual. Você terá de aprender o próprio bê-a-bá do amor. Terá que começar do comecinho, da estaca zero; do contrário, só se machucará. E lembre-se, só você pode se ajudar; ninguém é responsável.

Como alguém pode ajudar você? Ninguém pode destruir o seu ego. Se você se agarra a ele, ninguém pode destruí-lo; se você investe nele, ninguém pode destruí-lo. Eu só posso dividir com você o que sei. Os iluminados só podem mostrar o caminho; depois você tem que ir, tem que segui-lo. Ninguém pode levá-lo, segurar na sua mão.

É isso o que você gostaria de fazer: fazer de conta que é dependente. E lembre-se, a pessoa que faz de conta que é dependente um dia se vingará. Logo ela vai querer que o outro dependa dela. Se a esposa depende financeiramente do marido, então ela tentará que o marido dependa dela para outras coisas.

Trata-se de um arranjo mútuo. Ambos estão mutilados, ambos estão paralisados; um não pode viver sem o outro. Até a ideia de que o marido era feliz sem a esposa, de que ele ria no clube com os amigos a machuca. Ela não está interessada na felicidade dele; na verdade ela não acredita: "Como ele ousava ser feliz sem mim? Ele tem que depender de mim!"

O marido não gosta quando vê a esposa rindo com outra pessoa, feliz, alegre. Ele quer que toda a alegria dela lhe pertença; seja propriedade dele. A pessoa dependente fará de você uma pessoa dependente também.

O medo nunca é amor e o amor nunca é medo. Você não perde nada por amar. Por que ter medo do amor? O amor apenas dá. Ele não é uma transação comercial, por isso não é uma questão de perder ou ganhar. O amor gosta de dar, assim como as flores gostam de exalar perfume. Por que elas deveriam ter medo? Por que você deveria ter medo?

Lembre-se, o medo e o amor nunca existem juntos; não podem. Não é possível a coexistência. O medo é justamente o oposto do amor.

As pessoas costumam achar que o ódio é o oposto do amor. Isso é um equívoco, um total equívoco. O medo é o oposto do amor. O ódio é o amor ao contrário. É o contrário, mas não é o oposto.

A pessoa que odeia simplesmente mostra que, de algum modo, ela ainda ama. O amor se tornou amargo, mas ainda existe. O medo é o verdadeiro oposto, pois ele significa que toda a energia do amor desapareceu.

O amor é se aproximar do outro sem medo, com uma enorme confiança de que será recebido - e ele sempre é. O medo se encolhe dentro de você, fecha o seu ser, fecha todas as portas, todas as janelas para que o sol, o vento, a chuva não possam atingi-lo, tamanho o seu pavor. Você está se enterrando vivo.

O medo é uma sepultura, o amor é um templo. No amor, a vida chega ao seu apogeu. No medo, a vida resvala para o nível da morte. O medo fede, o amor é perfumado. Por que você deveria ter receio?

Tenha receio do seu ego, tenha receio da sua luxúria, tenha receio da sua ganância, tenha receio da sua possessividade, tenha receio do seu ciúme - mas não há por que ter receio do amor. O amor é divino! É como a luz. Quando existe luz, não existe escuridão. Quando existe amor, não existe medo.

O amor pode fazer da sua vida uma grande celebração, mas só o amor pode fazer isso - não a luxúria, não o ego, não a possessividade, não o ciúme, não a dependência.

Texto retirado do Blog Palavras de Osho!
Livro "A Essência do Amor: Como Amar com Consciência e se Relacionar Sem Medo"

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Como os sentimento negativos se alimentam?

::André Lima::



Toda emoção negativa que carregamos deseja sobreviver e se fortalecer. É como se ela tivesse vida e um tipo de inteligência própria que busca formas de se alimentar. A emoção toma conta de nós em certas situações e fala através da nossa boca e age através do nosso corpo.

“Você não é os seus pensamentos e sentimentos” nós não somos as emoções que carregamos, e sim, a Consciência que está por trás de tudo, o observador, a testemunha. Como se fosse uma entidade, a emoção pode nos possuir, gerando pensamentos e atitudes negativas, para que ela possa se alimentar e se perpetuar.
Observe a si mesmo em determinados momentos. Eu as vezes me pego me irritando com certas coisas, e no momento em que isso ocorre, é quase irresistível sentir e agir da forma que ajo. Neste momento, a emoção tomou conta de mim, influenciou meus pensamentos e minhas ações. E na hora que acontece, as razões exteriores parecem justificar muito bem a forma que eu me sinto, e o que eu falo e faço. É como se eu dissesse na hora “não tem como não se irritar com isso, qualquer pessoa se sentiria assim!”. No entanto, é apenas a irritação que já está dentro de mim, se manifestando, falando pela minha boca, querendo beber mais sofrimento e se fortalecer. O resultado? A gente acaba desenvolvendo sintomas físicos, doenças e ansiedade por guardar a carga emocional negativa dentro de nós.

Veja se você consegue perceber de vez em quando, uma vontade irresistível de reclamar, de sentir raiva de algo, de falar mal de alguém ou do passado, de relembrar alguma situação desagradável. É apenas a emoção querendo sobreviver.
A emoção fica latente, a espreita, esperando uma oportunidade para se manifestar e se alimentar. Situações externas e outras pessoas são os gatilhos que acordam essa negatividade guardada. Você está super tranqüilo, quando de repente, alguém diz algo ou faz alguma coisa e aí surge um incômodo muitas vezes de forma instantânea. E quando você menos espera, a emoção já tomou conta, vários pensamentos negativos foram gerados e talvez você já tenha agido de uma determinada forma.

A emoção poderá nos influenciar de levemente, gerando apenas alguns pensamentos negativos ou algumas palavras, mas pode também chegar a provocar ações violentas, brigas, e até mesmo crimes bárbaros. É o mesmo mecanismo em ação, só que em intensidades diferentes.

A intensidade da nossa reação vai depender de duas coisas: da força da emoção negativa que está guardada em nós, e do nosso grau de identificação com aquela emoção. Tem pessoas que são verdadeiras bombas relógio. Tem uma carga emocional tão forte guardada (coisas do passado mal resolvidas, mágoas, raivas, rejeições e etc....) que esse corpo emocional quando é ativado por algum acontecimento, a reação vem como uma avalanche poderosa e incontrolável e toma conta da pessoa. Assim ela pode se tornar violenta, ou pode ficar triste e chorar desesperadamente, por exemplo. Quanto maior o conteúdo emocional guardado, maiores as chances de sermos pegos de surpresa.

O grau de identificação com a emoção é o quanto você acredita que ela faz parte de você, do seu eu, da sua personalidade. Você não é os seus pensamentos e sentimentos, mas na maior parte do tempo, pensamos que somos. Então, quando surge a emoção negativa, se você tem uma consciência maior de que você não é aquilo e que ela deseja apenas se alimentar, é mais fácil apenas observar a ação dela com calma, até que ela vai se dissolvendo aos poucos. O ideal é observar sem resistir, sem julgar, sem alimentar, somente sentindo a emoção, as reações físicas que ela causa e os pensamentos que ela provoca. Precisamos estar muito atentos para fazer isso.

No entanto, quando não temos consciência (e a maioria das pessoas não tem) de que a emoção não é quem nós somos, vamos alimentá-la quando ela surgir, com pensamentos e ações. Iremos justificar e argumentar interiormente que estamos totalmente certos em nos sentirmos daquela forma. Assim a emoção negativa cumpre o seu objetivo de se alimentar e se perpetuar. Depois de um tempo, ela irá se acomodar no seu interior e vai aguardar uma outra oportunidade para se manifestar.
Observe também o seguinte mecanismo. A pessoa está triste por causa de um término de um relacionamento ou outra situação semelhante, e começa a ouvir músicas tristes, românticas, para “roer” e curtir a dor. É a própria emoção da tristeza dirigindo as ações da pessoa para se alimentar. Ela fará você escolher as músicas mais tristes para tocar. E assim você sente um estranho misto de prazer e dor. Prazer para quem? Para a tristeza instalada, a dor de ouvir a música triste é prazer.

Esse mecanismo ocorre também quando começamos a alimentar lembranças de histórias passadas: brigas, perdas, culpas, frustrações e etc... Criamos um dialogo mental falando de um evento passado desagradável. Esse diálogo pode ficar relembrando falas que foram ditas, coisas que você poderia ter feito mas não fez. É possível também que esse diálogo tenha um tom de vitimismo ou agressividade. Podem também surgir imagens do que o ocorreu, ou do que poderia ter ocorrido. Algumas pessoas remoem compulsivamente histórias do passado.

A emoção é “esperta”. Se você não estiver muito atento, ela tomará conta de você. E as vezes você poderá até se pegar em um conflito interior, um lado tentando deixar a emoção de lado e outro lado alimentando-a. A emoção negativa tentará convencê-lo a não deixar aqueles pensamentos para trás.. Mas atenção. A emoção não quer ser dissolvida . Pode também surgir uma paralisia ou uma preguiça irresistível. Agora que você já compreende o mecanismo, fica mais fácil de identificar e não ceder. É importante também limpar a carga emocional de eventos passados, desde a infância até os mais recentes.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A transformação pelo fogo



"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua sendo milho para sempre."

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.

Imagino a pobre pipoca fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.

A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!

E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho da pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosas do que o seu jeito de ser. A presunção, o medo, são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, seu destino é triste, já que ficará dura a vida inteira.

Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.

Rubem Alves
Do livro: "O amor que acende a lua"
Editora Papirus

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Por que aceitamos engolir sapo?

::Elisa Correa::



Devemos defender nossas posições com unhas e dentes, sem temer as consequências, ou... engolir sapo? Quem vive engolindo sapos sofre muito: tem dificuldade para dizer não, fica calado ou concorda com o outro em situações polêmicas só para evitar conflitos, ignora os próprios desejos para não gerar mágoas.

"A pessoa não expressa seu sentimento e opinião simplesmente por medo da reação negativa de seu interlocutor. Essa atitude tem a ver com a cultura, com crenças que estão no modelo mental guiando nosso comportamento para a passividade em situações em que nos sentimos ameaçados ou com riscos de perdas", explica Vera Martins, especialista em medicina comportamental, diretora da Assertiva Consultores, de São Paulo, e autora do livro "Seja Assertivo!" (editora Campus).

Depois vem aquela sensação de impotência e frustração por não conseguir expressar os sentimentos, por achar que tem sempre alguém determinando o que deve ser feito. E lá ficamos nós, nos sentindo incompreendidos e manipulados, remoendo uma mistura de raiva e culpa enquanto pensamos no que deveríamos ter dito no momento que já passou. Como consequência, nossa autoestima e confiança despencam no mesmo ritmo com que perdemos o respeito dos outros, que passam a não nos levar mais em conta.

Corpo e mente


Se engolir sapos pode ser considerado uma estratégia de proteção precisamos saber que sofreremos consequências deletérias por não defender nossas posições. "A raiva é uma das emoções que as pessoas têm mais dificuldade de manifestar. Muitos enterram a agressividade durante anos e têm pavor do que pode acontecer, caso resolvam desabafar. Acham que qualquer demonstração desse sentimento vai magoar os outros", afirmam Robert Alberti e Michael Emmons no livro "Como se Tornar mais Confiante e Assertivo" (editora Sextante).


Guardar a raiva para si mesmo pode até provocar algumas doenças, como alergias, asma brônquica, dermatites, síndrome do intestino irritável e fibromialgia. No entanto, ainda são poucas as pessoas que percebem essa associação. "Às vezes você sai de uma reunião com uma enorme dor de cabeça, termina um almoço com muita dor de estômago e não percebe que isso está associado ao fato de não ter se posicionado como gostaria. Quando chega em casa, pensa em tudo o que deveria ter falado e não teve coragem naquele momento. E se sente muito mal por isso", diz Denise Gimenez Ramos, psicóloga e professora titular do programa de pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.

Que tal dizer não?


O problema é que quem atura muita coisa calado acaba sendo agressivo em algum momento. Pessoas passivas no trabalho podem ser agressivas em casa, descarregando a raiva nos filhos, na mãe ou no companheiro porque se sentem mais seguras. Mesmo explodindo, acreditam que vão continuar sendo amadas. Quem recebe a agressão deve evitar reagir do mesmo jeito. "Senão vira uma guerra para ver quem humilha mais, quem pode mais. A atitude saudável é apontar para o outro a agressão e não devolver na mesma moeda", diz a psicóloga Denise Ramos.

O responsável é você


Então como deixar para trás o comportamento passivo? Para começar, é preciso autoconhecimento. Também é preciso deixar de sentir culpa. Você não é culpado e sim responsável pelo que acontece em sua vida. Ninguém tem a obrigação de ler seus pensamentos se você não se posiciona. Para ser assertivo é preciso, antes de mais nada, reconhecer que muitos sapos já foram engolidos. Beije cada sapo que aparecer no caminho e transforme-o em um príncipe. Para cada sim dito contra a vontade, diga um não. Para cada desaforo que levar para casa, exponha suas opiniões. Assim, de sapo em sapo, você estará aprendendo a ser assertivo. Não é fácil. Mas certamente é bem menos indigesto.