terça-feira, 27 de março de 2012

Tolerância com nossos erros = Auto-Estima


::Luiz Alberto Py::


Vendo uma criança pequena começando a andar, facilmente percebemos que o aprendizado dela só se torna possível à custa de muitas quedas, um tombo atrás do outro. É estimulante observar como a criança insiste e luta para, aos poucos, ganhar firmeza nas pernas e conquistar equilíbrio no corpo até dominar o processo de poder se deslocar com independência de um lugar para o outro. 

Deste exemplo, aprendemos o quanto é inevitável passar por desacertos e erros, para finalmente conseguir agir corretamente. E esta constatação é verdadeira para a maior parte dos aprendizados que desenvolvemos durante nossa vida, aprendemos errando e errando conseguimos acertar. Errar é indispensável e suportar os erros uma atitude saudável, que nos ajuda em nosso desenvolvimento.

Lamentavelmente, a educação tradicional, que ainda vigora em boa parte das escolas de nosso país, tende a tratar os erros de uma forma muito negativa. Erros costumam ser punidos, esforços mal-sucedidos tendem a ser desvalorizados e as notas baixas aguardam os alunos que não conseguem um bom desempenho em suas tentativas. O empenho e o esforço só são premiados quando atingem o sucesso e geralmente não são valorizados por eles próprios. Como conseqüência desta atitude educacional, desde muito cedo somos incentivados a evitar errar e a ter uma postura negativa em relação a erros cometidos, tanto por nós como pelos outros. Isto leva muitas pessoas a ficarem paralisadas em seus processos de crescimento pelo receio do julgamento que vão receber e da rejeição de que poderão ser vítimas caso cometam erros. Acabam por preferir nada fazer para não arriscar errar e se tornam adeptos de um imobilismo que, quando não impede, pelo menos dificulta bastante o progresso. Correm o risco de fazer parte do time que termina invicto o campeonato por não ter disputado uma única partida.

Para se mudar esta situação, o melhor instrumento de que dispomos é a tolerância, que nos é ensinada pelo amor. Através dela aprende-se a lidar com os erros. Quando aceitamos a idéia de desenvolver uma capacidade para tolerar os erros percebemos que esta atitude reforça a auto-estima, a qual, por sua vez, contribui para uma melhor tolerância, gerando um círculo virtuoso que melhora a relação de cada um consigo mesmo. Nesta relação, é de crucial importância o entendimento de que precisamos nos dar todas as oportunidades para tentar e experimentar, mesmo errando, e insistir em nossas tentativas e experiências enquanto for razoável acreditar nas possibilidades de se chegar ao sucesso. Esta é uma das chaves da auto-estima, pois o amor próprio se revigora nos momentos em que nos permitimos o esforço das tentativas, da busca, do aprendizado.

Importa distinguir o erro repetido e estagnado, do erro cometido em busca do acerto, do aprimoramento, a partir do qual se desenvolve um processo de crescimento. Assim, quando por detrás do erro está o empenho e a procura, deve haver uma margem de aceitação dele, de tolerância para com suas conseqüências negativas, pois daí pode advir o mais positivo de todos os resultados – a evolução, mola fundamental do processo de vida. Este tipo de erro precisa ser bem recebido pois, no longo prazo, dele resulta o bem.


terça-feira, 20 de março de 2012

Solidão

::Desconheço a autoria::



Às vezes precisamos ficar sós... 
Precisamos dar um silêncio aos nossos pensamentos... 
Necessitamos ter essa referência centrada em nós mesmos para melhor poder entender o mundo à nossa volta... 
Precisamos saber e entender, o quê e porque queremos... 
Importante é aquilo que nos afeta, todo o resto é fútil...
Se o mundo é para nós, apenas o que sentimos e observamos dele... Então... é preciso digerir e entender melhor o próprio vazio, para poder "ocupá-lo" com elementos que possam somar às experiências de nossas emoções e ao nosso conhecimento... 
Toda evolução depende de etapas inexoráveis..
Todo conhecimento é uma base para os novos conhecimentos que serão necessários em seguida... 
Estar só é pré-condição inerente à nossa existência. Sempre teremos que nos separar de quem queremos. Sempre teremos dúvidas que ninguém poderá nos responder. Sempre teremos medos que não conseguiremos vencer. Sempre estaremos tristes e carentes nos momentos mais decisivos de nossas vidas... 
Sempre tomaremos nossas atitudes, sozinhos; baseado tão somente no que acreditamos... Sempre choraremos sozinhos, às nossas dores e lamentaremos a nossa vergonha...
O que pudermos fazer faremos sozinhos... O que tivermos que sofrer; sofreremos sozinhos... O que tivermos que chorar; choraremos sozinhos... O que tivermos que temer; temeremos sozinhos... O que pudermos conquistar, conquistaremos sozinhos... O que pudermos merecer, mereceremos sozinhos... O quanto conseguirmos evoluir, evoluiremos sozinhos... 
Chegamos e partiremos sós do mundo... Somos sós mesmo que acompanhados... 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Relacionamentos e Auto-responsabilidade

:: Maria Aparecida Diniz Bressani :: 




Jung diz que todo relacionamento é 50% de responsabilidade para cada uma das partes. Um relacionamento, na verdade, é resultado do que as partes colocam nele. Cada pessoa contribui com sua porção para a evolução da relação e ajuda a determinar para que direção esta irá evoluir. Da mesma forma, todas as pessoas que estão se sentindo sós estão à procura de alguém para se relacionar, pois esta é condição essencial do ser humano.

No consultório, o que percebo é que as pessoas que trazem suas queixas sobre seus respectivos e frustrados relacionamentos sempre tratam de uma mesma dinâmica, ou seja, parece que escolhem sempre o mesmo tipo de pessoa - embora os comportamentos possam até diferir muito - porque acabam por estabelecer um mesmo tipo de relacionamento, como se houvesse um script já pronto. No momento em que estabelecem suas relações, sempre com altas expectativas de que aquele relacionamento seja diferente - afinal aquela pessoa é "diferente" de todas as outras com quem já se relacionaram - acabam por decepcionar-se por viver um déjà vu.

Nos scripts, a tônica frustrante pode variar para cada um. A tônica pode ser a falta de respeito; para outros pode haver atração física, mas falta admiração e até educação entre as partes ou por uma das partes; em outros casos, existe manipulação ou traição; há scripts onde a dinâmica é inferiorizar o outro ou confundi-lo, desestabilizando a sua auto-estima e a sua autoconfiança.

Quando uma pessoa se vê entrando e saindo de relacionamentos onde sua queixa quase sempre se resume numa única questão (como se realmente houvesse um script prévio), deve parar e ater-se ao que acontece e ao porquê de sempre atrair um mesmo tipo de pessoa, pois mesmo que lhe pareça ser diferente no princípio (superficialmente), numa observação mais profunda, não o é.

Na psicologia junguiana entendemos que há um script interno de como viver a vida que determina as escolhas pessoais, como também tem o script interno de como "funciona" uma relação. Este script é a base da própria personalidade. Por isso, é importante que uma pessoa que passa por várias relações ou vive uma longa relação frustrante faça uma auto-análise honesta para poder constatar o que de fato acontece. Afinal, tudo o que acontece consigo lhe diz respeito, pois tem sua participação e contribuição. E é preciso entender; o que acontece consigo é para resolver e não para ficar sofrendo indefinidamente.

No começo os relacionamentos podem começar animados, apaixonados e cheios de promessas de felicidade, mas com o passar do tempo começa a ocorrer um acomodamento - como que em camadas - vai havendo uma espécie de ajuste da dinâmica de personalidade de cada um e a relação - como resultado - encontra sua própria dinâmica, que pode gerar satisfação ou insatisfação para as pessoas envolvidas.

Numa relação tem que haver basicamente admiração, gentileza, educação, respeito e atração física e intelectual - mútuas. O resultado será companheirismo, amizade, excitação sexual e intelectual e satisfação - mútuas. Quando falta algum desses ingredientes básicos fica sempre a sensação de frustração e, conseqüentemente, gera sentimento de tristeza, decepção ou menosprezo pelo outro, levando ao movimento de rompimento do relacionamento ou a tentar modificá-lo. Se é escolhida a segunda opção, a partir daí começa uma guerra e não mais uma relação amorosa (proposta inicial). E qual será o resultado? A resposta: Sofrimento.

Tem pessoas que mantém relações seguidas ou vivem anos em guerra com o outro acreditando que esse outro poderá mudar, mas na verdade, o desejo é que conseguirá ter o poder de mudar o outro para aquilo que espera e deseja para a sua própria satisfação. 

E quando a relação acaba - para sua surpresa - muitas vezes não entende o que aconteceu. Esse é um dos scripts - uma das formas de manipulação. Aqui é perceber que ninguém tem o poder de mudar ninguém, que cada um é o que é e que a mudança ocorre - quando e se ocorrer - devido à necessidade interna e, nunca, por pressão externa.

Antes de tentar modificar alguém ou sofrer numa relação frustrante é importante entender que cada pessoa tem sua personalidade própria e que todos temos nossos "códigos" sobre o que é amor, sobre o que é a vida e sobre o que é relacionamento. 

E, embora muitas pessoas usem as mesmas palavras para expressar suas necessidades sobre o amor, sobre a vida e sobre relacionamentos, não significa que seus "códigos" sobre estas questões sejam semelhantes. E a grande armadilha é que ao ouvir as mesmas palavras as decodificam a partir de seu próprio "código" pessoal e acreditam que encontraram quem procuravam, pois "querem" a mesma coisa de um relacionamento. O conflito aparece quando o comportamento do outro não se encaixa com a expectativa, fruto daquela decodificação; a primeira sensação é de susto e depois, de medo.

A auto-responsabilidade é entender que as relações são compostas de, no mínimo, duas pessoas; por isso, estão em jogo dois corações, duas perspectivas e expectativas sobre o relacionamento proposto (crenças e valores) e dois quereres.

É entender que adaptação e concessão são necessárias, mais que isso é anulação. E quando há anulação de uma das partes ambos estão sozinhos e não estão compartilhando uma relação. É a famosa solidão a dois!

É entender que a premissa básica para estabelecer companheirismo numa relação é a aceitação um do outro. E para aceitar o outro como o outro é precisa, primeiramente, aceitar-se a si próprio. É, principalmente, entender que ninguém - a não ser nós próprios - temos o poder de nos fazer feliz!

terça-feira, 6 de março de 2012

Confiar sem se machucar?

::Rosemeire Zago::


Quase sempre criamos expectativas em nossas relações pessoais, afetivas, familiares. Confiamos, acreditamos, gostamos e muitas vezes nos decepcionamos e nos machucamos. Criamos ilusões diante de quem conhecemos e quando estes têm comportamentos inesperados, o chão de nossa segurança desaparece e nos sentimos ameaçados. Quando isso acontece, muitas vezes custamos a acreditar nos fatos, apesar deles serem reais e estarem à nossa frente. Como defesa para não sentirmos a dor, negamos, fugimos, mas logo a mágoa volta para nos lembrar que fomos enganados, traídos.

Muitas vezes, dependendo do grau do envolvimento, acabamos por confundir a realidade com nossas necessidades e vemos o outro como desejamos que fosse e não como ele se apresenta. Ou seja, com muita facilidade confundimos ideal com real. Claro que outras vezes, o outro faz de tudo para acreditarmos que ele seja como anjo, mas com o tempo percebemos que estava muito distante disso.

Os principais responsáveis por nossas desilusões somos nós mesmos, pois idealizamos a outra pessoa e, ainda que inconscientemente, projetamos nela a responsabilidade de satisfazer nossas necessidades. Assim, perdemos a capacidade de discernir a realidade da necessidade e a própria responsabilidade de suprirmos nossas carências.

Se reparar melhor e voltar um pouco ao passado, talvez perceba que foi enganado, na verdade, por ignorar sua intuição, sua voz interior, que quase sempre diz: não vai dar certo, não confie, não vá adiante. Ignoramos nossos valores como se não fosse correto confiar em nossa própria voz. E aí nos enganamos e nos machucamos.

Isso quer dizer que não devemos acreditar nas pessoas? Devemos acreditar acima de tudo em nós mesmos, e muitas pessoas confiam mais em outras pessoas do que em si próprias e esse não é o melhor caminho. O que devemos evitar é colocar todo nosso referencial de vida e valores no outro, deixar de viver a própria vida e viver a vida do outro. Não podemos perder nosso referencial interno, pois ao mantermos nossas referências, ficará mais difícil alguém nos decepcionar a ponto de nos perdermos de nós mesmos.

Algumas pessoas sofrem demais, porque na verdade, esperam demais, ou ao menos, esperam que o outro tenha respeito e valores semelhantes aos seus, o que nem sempre acontece. 

Confiar em alguém nos dias de hoje é algo muito delicado. Se você se considera uma vítima constante de pessoas assim, não será hora de parar um pouco e repensar sobre seus próprios valores e a forma de conduzir a própria vida? Ou ainda, não confiar tanto assim? Você pode sofrer por ter sido enganado, mas sofrerá muito mais por ter se deixado enganar. De nada adiantará ficar revoltado, brigar com o mundo, achar que não se deve mais acreditar no ser humano. Mas talvez seja importante para você acreditar acima de tudo em você mesmo.

Lembre-se que quem engana ao outro, na verdade, está enganando e fugindo de si próprio. Ou seja, quem brinca com os sentimentos de alguém, quem machuca o outro, está desrespeitando antes de tudo a si mesmo, escondendo-se atrás de máscaras por não conseguir suportar seus intensos conflitos internos. Parece que pessoas assim se esquecem que com o tempo as conseqüências podem se inverter, tendo efeito bumerangue: vai e volta. Estão tão atentas como lesar ou prejudicar o outro que nem conseguem perceber o mal que estão causando a si mesmas e nem se dão chance de descobrirem que podem ser muito felizes sem ser preciso machucar alguém. 

Em qualquer relacionamento, e independente do tempo que se mantenha, podemos ouvir o que nos dizem, entender o que pensam, ou melhor, dizem pensar, mas dificilmente saberemos o que realmente sentem. Se até nossos próprios sentimentos nos fogem ao controle, imagine o que o outro sente. Amizade, cumplicidade, ética, responsabilidade, comprometimento, respeito, são valores hoje muito difíceis de serem encontrados.

Talvez por isso, seja tão importante valorizarmos aqueles que nos são caros, que mostram coerência entre o que sentem, fazem e falam. E mais importante ainda, é valorizarmos nossa intuição, que muitas vezes nos diz para não seguirmos adiante, mas ignoramos e seguimos em frente e depois nos decepcionamos, não só com o outro, mas também com nós mesmos. Por isso, observe mais, fale menos e tenha a certeza que para alguém ser especial para você e participar da sua vida, deve respeitar ao outro como a si mesmo o que, infelizmente, poucos conseguem. 

Por tudo isso, confie acima de tudo em você! E no máximo em uma folha de papel em branco, se quiser desabafar. E lembre-se do escreveu Jean Paul Sartre: Não importa o que nos fizeram, o importante é aquilo que fazemos com o que fizeram de nós.