segunda-feira, 29 de abril de 2013

Confiar sem se machucar?

:: Rosemeire Zago ::




Quase sempre criamos expectativas em nossas relações pessoais, afetivas, familiares. Confiamos, acreditamos, gostamos e muitas vezes nos decepcionamos e nos machucamos. Criamos ilusões diante de quem conhecemos e quando estes têm comportamentos inesperados, o chão de nossa segurança desaparece e nos sentimos ameaçados. Quando isso acontece, muitas vezes custamos a acreditar nos fatos, apesar deles serem reais e estarem à nossa frente. Como defesa para não sentirmos a dor, negamos, fugimos, mas logo a mágoa volta para nos lembrar que fomos enganados, traídos.

Muitas vezes, dependendo do grau do envolvimento, acabamos por confundir a realidade com nossas necessidades e vemos o outro como desejamos que fosse e não como ele se apresenta. Ou seja, com muita facilidade confundimos ideal com real. Claro que outras vezes, o outro faz de tudo para acreditarmos que ele seja como anjo, mas com o tempo percebemos que estava muito distante disso.

Os principais responsáveis por nossas desilusões somos nós mesmos, pois idealizamos a outra pessoa e, ainda que inconscientemente, projetamos nela a responsabilidade de satisfazer nossas necessidades. Assim, perdemos a capacidade de discernir a realidade da necessidade e a própria responsabilidade de suprirmos nossas carências.

Se reparar melhor e voltar um pouco ao passado, talvez perceba que foi enganado, na verdade, por ignorar sua intuição, sua voz interior, que quase sempre diz: não vai dar certo, não confie, não vá adiante. Ignoramos nossos valores como se não fosse correto confiar em nossa própria voz. E aí nos enganamos e nos machucamos.

Isso quer dizer que não devemos acreditar nas pessoas? Devemos acreditar acima de tudo em nós mesmos, e muitas pessoas confiam mais em outras pessoas do que em si próprias e esse não é o melhor caminho. O que devemos evitar é colocar todo nosso referencial de vida e valores no outro, deixar de viver a própria vida e viver a vida do outro. Não podemos perder nosso referencial interno, pois ao mantermos nossas referências, ficará mais difícil alguém nos decepcionar a ponto de nos perdermos de nós mesmos.

Algumas pessoas sofrem demais, porque na verdade, esperam demais, ou ao menos, esperam que o outro tenha respeito e valores semelhantes aos seus, o que nem sempre acontece.
Confiar em alguém nos dias de hoje é algo muito delicado. Se você se considera uma vítima constante de pessoas assim, não será hora de parar um pouco e repensar sobre seus próprios valores e a forma de conduzir a própria vida? Ou ainda, não confiar tanto assim? Você pode sofrer por ter sido enganado, mas sofrerá muito mais por ter se deixado enganar. De nada adiantará ficar revoltado, brigar com o mundo, achar que não se deve mais acreditar no ser humano. Mas talvez seja importante para você acreditar acima de tudo em você mesmo.

Lembre-se que quem engana ao outro, na verdade, está enganando e fugindo de si próprio. Ou seja, quem brinca com os sentimentos de alguém, quem machuca o outro, está desrespeitando antes de tudo a si mesmo, escondendo-se atrás de máscaras por não conseguir suportar seus intensos conflitos internos. Parece que pessoas assim se esquecem que com o tempo as conseqüências podem se inverter, tendo efeito bumerangue: vai e volta. Estão tão atentas como lesar ou prejudicar o outro que nem conseguem perceber o mal que estão causando a si mesmas e nem se dão chance de descobrirem que podem ser muito felizes sem ser preciso machucar alguém.
Em qualquer relacionamento, e independente do tempo que se mantenha, podemos ouvir o que nos dizem, entender o que pensam, ou melhor, dizem pensar, mas dificilmente saberemos o que realmente sentem. Se até nossos próprios sentimentos nos fogem ao controle, imagine o que o outro sente. Amizade, cumplicidade, ética, responsabilidade, comprometimento, respeito, são valores hoje muito difíceis de serem encontrados.

Talvez por isso, seja tão importante valorizarmos aqueles que nos são caros, que mostram coerência entre o que sentem, fazem e falam. E mais importante ainda, é valorizarmos nossa intuição, que muitas vezes nos diz para não seguirmos adiante, mas ignoramos e seguimos em frente e depois nos decepcionamos, não só com o outro, mas também com nós mesmos. Por isso, observe mais, fale menos e tenha a certeza que para alguém ser especial para você e participar da sua vida, deve respeitar ao outro como a si mesmo o que, infelizmente, poucos conseguem.
Por tudo isso, confie acima de tudo em você! E no máximo em uma folha de papel em branco, se quiser desabafar. E lembre-se do escreveu Jean Paul Sartre: Não importa o que fizeram com nós, o que importa é aquilo que fazemos com o que fizeram de nós.


- Posted using BlogPress from my iPad

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Até que ponto a dependência atrapalha?

:: Rosemeire Zago ::





A dependência emocional é um dos aspectos que facilmente identificamos nos outros, mas raramente em nós mesmos. Quando alguém nos conta sobre seu relacionamento afetivo, imediatamente percebemos a dependência de um dos parceiros, ou até mesmo, de ambos. Mas será que somos dependentes e não percebemos?

Nem sempre uma pessoa dependente necessita do outro para tudo. Muitas vezes consegue ter independência financeira, mas é na parte emocional que encontra maior dificuldade em cuidar de si própria. Em geral, uma pessoa dependente tem como características principais pouca confiança em si mesma e baixa auto-estima, e o foco está em ser cuidada e protegida, sempre dependendo da aprovação, reconhecimento e aceitação do outro, por não ter consciência de seu valor pessoal. Acredita que precisa do outro mais do que de si mesma.

O desejo inconsciente de que alguém cuide de nós pode nos sujeitar a várias formas de dependência psíquica. Ser dependente é como pedir, ou muitas vezes, implorar: cuide de mim, pois eu não consigo, em todos os sentidos. Dificilmente uma relação verdadeira e autêntica suporta isso por muito tempo, pois qualquer relação deve ser baseada em trocas equivalentes e supõe pessoas inteiras, e como a pessoa dependente não consegue ter essa percepção de si mesma, acaba por gerar muitos conflitos.

A dependência emocional pode causar muitos conflitos nos relacionamentos. É um sinal de muita carência e, acima de tudo, a necessidade de amor, principalmente o amor por si mesmo. A dependência faz parte do ser humano. A dependência emocional por gerar muito sofrimento e pode levar a outras dependências, como drogas, álcool, tabaco, sexo ou outras formas de compulsão, pois o dependente emocional está sempre em busca de que algo ou alguém preencha seu vazio. A dependência emocional mostra uma pessoa fragilizada, fraca e carente, que pode causar muitos desequilíbrios em qualquer tipo de relacionamento. A dependência emocional é mais evidente na relação afetiva entre casais, mas também podemos encontrá-la entre pais e filhos, ou entre amigos. O assunto é tão sério que uma pessoa dependente pode fazer sacrifícios extraordinários ou tolerar abuso verbal, físico e até sexual, para evitar ser abandonada.

Os pais, avós, professores, têm um papel importante na formação e educação de todos nós; crianças que se sentiram abandonadas, rejeitadas, não amadas, tendem muito mais a dependerem do amor de outra pessoa, e vivem isso como condição de sobrevivência. Pais superprotetores podem criar filhos dependentes quando adultos. Quem nunca precisou fazer nada por si mesmo, encontrando tudo pronto por pais que queriam acima de tudo suprir todas suas necessidades, com certeza encontrarão muita dificuldade em tornar-se independente. Pais que demonstram amor e confiança naquilo que a criança faz, com certeza quando adulta ela será muito mais segura de seu valor e muito menos dependente da aprovação e amor do outro.

Mesmo quando adultos desejamos ser protegidos por alguém, não no sentido material, mas principalmente no sentido de apoio emocional. Muitos acreditam que, a qualquer momento, em qualquer situação extrema, poderão contar com o socorro de alguém mais sábio e mais forte, o eterno salvador, incapaz de impedir seus fracassos. Desejar proteção é muito diferente da dependência doentia, que faz com que a pessoa mantenha uma relação mesmo que seja destrutiva, que a faça sofrer, chorar.

O primeiro passo para diminuir a dependência é ter consciência de seu comportamento, conhecer-se. Para conseguir realizar um processo de autoconhecimento e com isso, ter a percepção de seu valor, muitas vezes é preciso recorrer à psicoterapia com um profissional de sua confiança. Para abandonar a dependência é necessário identificar em que áreas de sua vida ela se faz presente e de que forma está comprometendo e causando conflitos em suas relações. O importante é se questionar sempre, analisando quando a dependência se torna um fato negativo, que cega e impede de crescer interiormente, tornando a existência um vício da presença do outro. Aprove-se mais, ame-se muito mais e dependa especialmente de você!


- Posted using BlogPress from my iPad