terça-feira, 24 de maio de 2011

Olhando para dentro de si

::Rosemeire Zago::



Diariamente recebo e-mails pedindo orientação em como solucionar vários tipos de conflitos e é sempre bom lembrar que a maioria deles pode ser amenizado obtendo o autoconhecimento, que se consegue mais efetivamente com o processo da psicoterapia. Mas por qual motivo insisto neste trabalho? Porque dificilmente conseguimos olhar para tudo que há dentro de nós sem auxílio de um profissional. Amigos podem ajudar? Claro que sim, mas cada um traz em si um histórico de vida, e quando contamos algo a alguém e nos é dado um conselho ou opinião, em geral essa resposta estará contaminada com histórico da pessoa, ou seja, aquilo que ela viveu irá interferir diretamente na opinião que irá lhe dar; diferente do profissional que não está lá para te dizer o quê ou como fazer, mas sim proporcionar uma maior reflexão de seus próprios sentimentos e atitudes. Quer um exemplo? Se você contar para um amigo uma briga que teve com sua mãe, irá ouvir algo relacionado com o referencial que seu amigo viveu durante a vida em relação à mãe dele. Se seu amigo tem conflitos com a mãe, poderá influenciar na opinião que dará. Raramente você irá ouvir como resposta algo que o faça refletir sobre seus próprios sentimentos.

Outro fator importante é que na psicoterapia, dependendo da linha ou teoria do trabalho, é considerado não apenas o consciente, mas principalmente o inconsciente, onde estão registrados tudo aquilo que vivemos, e principalmente o que sentimos, desde a concepção até o momento presente. E muitas pessoas por não terem este conhecimento acabam por limitar a percepção de si mesmas. Ou seja, para nos conhecermos devemos considerar também os aspectos inconscientes. O que raramente um amigo irá fazer.

São nossos pensamentos e opiniões que criam nossos sentimentos, e ambos criam nossas atitudes. Mas tememos os sentimentos, fugimos deles, negamos senti-los e com isso, as dificuldades se somam. O fato de ignorarmos o que sentimos não faz com que desapareçam de dentro de nós, pelo contrário, tudo o que é negado se torna mais forte. Quando reprimimos o que sentimos, estamos impedindo que a energia contida se manifeste e nos mantemos no mesmo padrão de comportamento, não permitindo que as mudanças, tão essencial ao crescimento, se efetuem. E com isso, seguimos a vida repetindo padrões. Ao refletir sobre sua vida poderá encontrar padrões de comportamentos e/ou sentimentos que se repetem. Muitas vezes as situações são diferentes, mas o sentimento despertado geralmente já é conhecido. Procure identificar o sentimento que tem tido nas últimas semanas... Perceberá que é um sentimento que o acompanha há muito tempo. Qual sua origem? Nem sempre conseguimos identificar sem auxílio de um profissional.

Para que possamos nos conhecer profundamente é necessário deixar que todas as emoções que estão dentro de nós se tornem conscientes. Sem fugas, que em geral acontecem de diversas maneiras, seja trabalhando em excesso, consumindo álcool, tendo compulsão por comida, compras, jogos, etc. Estamos constantemente ocupados com tantos afazeres, que sequer nos damos tempo para identificar o que sentimos. Tudo isso faz com que olhemos apenas para fora, e não para dentro de nós. Estamos sempre apagando incêndios e não nos damos tempo para ouvir aquilo que muitas vezes grita dentro de nós. É quando surgem doenças e sintomas, como que para nos fazer ouvir o que negamos. Se você deixasse que sua alma gritasse, o que ela diria? Ouça-a!

Outra maneira de fugir de nosso potencial e capacidade de nos olhar por inteiro é manter relações afetivas destrutivas. Ficamos tão atordoados tentando salvar nossa relação que no meio de tantas brigas, insatisfações, desentendimentos, acusações, nos sentimos sem condição de agir de forma a nos defender. Nossa capacidade em ter consciência de nosso valor parece ficar totalmente comprometida. É neste processo que nos perdemos de nós mesmos, e em vão passamos a procurar no outro a solução que está bem dentro de nós. É quando passamos a supervalorizar o outro na mesma proporção que nos desvalorizamos. O que por si só cria um círculo vicioso. Vemos o outro, ou queremos ver, como responsável por nosso sofrimento e também por nossa felicidade. E deixamos nossa vida nas mãos de alguém que muitas vezes, não consegue cuidar nem da própria vida... quem dirá da nossa. E choramos, nos desesperamos, queremos respostas urgentes, mas sequer nos damos ao trabalho de questionar sobre as possíveis causas de nossos sentimentos mais profundos.

O que fazer diante dos conflitos? Primeiro é preciso identificar seus sentimentos. Parece fácil, mas nem tanto. Pare por uns segundos e pergunte-se: o que estou sentindo neste momento? Nem sempre a resposta virá de imediato. Mas insista. Pergunte-se ainda: o que está causando minha insatisfação? (ou o que esteja sentindo...) Pergunte-se todos dos dias, ao menos uma vez por dia, qual o sentimento que está sentindo. Com certeza isso o ajudará a se conhecer um pouco mais. E o que fazer com o sentimento que identificou? Procure buscar a origem dele, em qual situação ele começou? Novamente, ouça a resposta. Exercite ouvir-se todos os dias, e assim conhecer um pouco mais de você, sem medos, mas com a convicção que dentro de você está a resposta que tanto busca!

terça-feira, 17 de maio de 2011

O medo... e a felicidade...

:: Rubia A. Dantés ::



Estava aqui pensando com meus botões em quantas vezes senti medo em situações, que... uma vez solucionadas... me mostravam claramente, como o medo era algo muito desproporcional ao que realmente estava acontecendo.

Acho que temos medo porque não confiamos plenamente na Divindade, e pensamos que temos que resolver tudo com nossos recursos... com isso, diante de coisas que já parecem tão grandes e ameaçadoras, tratamos de torná-las ainda maiores alimentando-as com nossas memórias e pensamentos equivocados...
E como um fermento, o nosso medo vai fazendo tudo ficar muito maior e mais assustador... nos limitando a espaços, exteriores e interiores, cada vez mais apertados.

O medo afasta de nós a possibilidade de encontrarmos soluções que estão além do nosso controle... e quanto mais medo temos, mais queremos controlar tudo... e com isso, perdemos a oportunidade de nos abrir para os infinitos caminhos que vêm do desconhecido...

Enquanto escrevia recebi um e-mail com essa mensagem:
Quantos "agoras" perdemos, esquecendo que o risco pode ser a salvação de muitas alegrias de nossas vidas...
O medo que nos impede de sermos ousados agora, também está nos impedindo de vermos a linda pessoa que podemos ser.
Clarice Lispector


Sinto que nesse tempo, pelo qual estamos passando, estamos sendo chamados para avançar apesar dos medos, mesmo porque não temos mais muita saída... Os nossos recursos conhecidos estão se esgotando e só nos resta CONFIAR...

Confiar que as coisas acontecem mesmo sem a nossa interferência direta... confiar que uma semente cresce mesmo se não conferirmos todos os dias... confiar que, além do que acreditamos ser o melhor para nós, existem muito mais possibilidades... enfim... confiar que a Divindade que habita em cada Um... com certeza, sempre sabe o que é melhor para nós do que nosso ego, e que nunca estamos só...

Sei que entregar o controle e confiar plenamente na Divindade não é fácil, especialmente naquelas áreas onde temos as maiores expectativas... nesses pontos, não confiamos que coisas que sejam diferentes daquelas que desejamos, podem nos fazer felizes e, com isso, ficamos presos ao que muitas vezes nunca acontece... porque não fazia mesmo parte da nossa história... ou pior, quando se realizam, não trazem a esperada felicidade...
Geralmente, os nossos desejos são focados em símbolos da felicidade e esses símbolos são escolhidos por modelos que aprendemos a acreditar serem os ideais... quase nunca nos abrimos verdadeiramente para a felicidade simplesmente... independente da forma que vier. E muitas vezes a nossa felicidade passa longe do que acreditamos...

Quantas histórias conhecemos de pessoas que conquistaram tudo e acreditavam que iam ser felizes... e que, depois... encontraram a felicidade da maneira que nunca imaginaram. Às vezes de forma simples, em uma vida em contato com a natureza...
Isso, é claro, não quer dizer que a felicidade não pode ser encontrada quando buscamos e alcançamos coisas... se isso for realmente a vontade da nossa Alma..

Mas esses exemplos só nos mostram que o nosso ego, muitas vezes, é um fator complicador na busca pela felicidade, que depende muito mais do nosso estado de espírito do que das coisas que conquistamos.

Mas aprendemos assim e só nos resta desaprender e confiar que além de tudo que aprendemos... e nos prendemos... lá no profundo do nosso coração... de forma as vezes tão simples... habita a felicidade.

domingo, 8 de maio de 2011

Quando Deus criou as Mães...

::Desconheço o autor::



Diz uma lenda que o dia em que o bom Deus criou as mães, um mensageiro se acercou dele e lhe perguntou o porquê de tanto zelo com aquela criação.

Em que, afinal de contas, ela era tão especial?

O bondoso e paciente Pai de todos nós lhe explicou que aquela mulher teria o papel de mãe, pelo que merecia especial cuidado.

Ela deveria ter um beijo que tivesse o dom de curar qualquer coisa, desde leves machucados até namoro terminado.

Deveria ser dotada de mãos hábeis e ligeiras que agissem depressa preparando o lanche do filho, enquanto mexesse nas panelas para que o almoço não queimasse.

Que tivesse noções básicas de enfermagem e fosse catedrática em medicina da alma. Que aplicasse curativos nos ferimentos do corpo e colocasse bálsamo nas chagas da alma ferida e magoada.

Mãos que soubessem acarinhar, mas que fossem firmes para transmitir segurança ao filho de passos vacilantes. Mãos que soubessem transformar um pedaço de tecido quase insignificante numa roupa especial para a festinha da escola.

Por ser mãe deveria ser dotada de muitos pares de olhos. Um par para ver através de portas fechadas, para aqueles momentos em que se perguntasse o que é que as crianças estão tramando no quarto fechado.

Outro par para ver o que não deveria, mas precisa saber e, naturalmente, olhos normais para fitar com doçura uma criança em apuros e lhe dizer: "eu te compreendo. Não tenhas medo. Eu te amo", mesmo sem dizer nenhuma palavra.

O modelo de mãe deveria ser dotado ainda da capacidade de convencer uma criança de nove anos a tomar banho, uma de cinco a escovar os dentes e dormir, quando está na hora.

Um modelo delicado, com certeza, mas resistente, capaz de resistir ao vendaval da adversidade e proteger os filhos, de superar a própria enfermidade em benefício dos seus amados e de alimentar uma família com o pão do amor.

Uma mulher com capacidade de pensar e fazer acordos com as mais diversas faixas de idade.

Uma mulher com capacidade de derramar lágrimas de saudade e de dor mas ainda assim insistir para que o filho parta em busca do que lhe constitua a felicidade ou signifique seu progresso maior.

Uma mulher com lágrimas especiais para os dias da alegria e os da tristeza, para as horas de desapontamento e de solidão.

Uma mulher de lábios ternos que soubesse cantar canções de ninar para os bebês e tivesse sempre as palavras certas para o filho arrependido pelas tolices feitas.

Lábios que soubessem falar de Deus, do universo e do amor. Que cantassem poemas de exaltação à beleza da paisagem e aos encantos da vida.

Uma mulher. Uma mãe.

Ser mãe é missão de graves responsabilidades e de subida honra. É gozar do privilégio de receber nos braços espíritos do Senhor e conduzi-los ao bem.

Enquanto houver mães na terra, Deus estará abençoando o homem com a oportunidade de alcançar a meta da perfeição que lhe cabe porque a mãe é a mão que conduz, o anjo que vela, a mulher que ora, na esperança de que os seus filhos alcancem felicidade e paz.

FELIZ DIA DAS MÃES!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O medo da Transformação

::Elisabeth Cavalcante::



Muitos seres humanos alegam desejar a transformação mas, quando surge a oportunidade de realizá-la, o medo e a insegurança acabam predominando.

É compreensível, pois transformar-se significa desconstruir as bases em que nosso ego e nossa personalidade se assentaram, para poder atuar no mundo.

E, ainda que estas bases sejam falsas, e não nos permitam expressar nosso ser real, nos acostumamos tanto a elas, que acabaram por se tornar uma espécie de capa protetora, atrás da qual nos escondemos e onde nos sentimos confortáveis.

Mas, o que fazer se, apesar disso, a angústia e o sofrimento estão presentes? Buscar a transformação exigirá de nós não apenas vontade, mas, determinação e coragem.

Muitos serão os truques apresentados pela mente para que fujamos da busca pela libertação. As ilusões a que nos apegaremos e que serão usadas como desculpa para fugirmos da caminhada ao encontro de nossa essência, serão inúmeras.

O medo assumirá a forma de compromissos inadiáveis, culpas, descrenças. Mas, aquele que se mantiver firme no desejo de vencer a si mesmo, certamente alcançará o objetivo.

A jornada não é tranqüila, e surgirão momentos em que a vontade de desistir e voltar à zona de conforto vai predominar. Nestas ocasiões, precisamos nos lembrar que o alcance da paz interior só é possível, para os que acreditam plenamente na vida e na sua generosidade, e têm a certeza de que ela sempre premia os que se entregam em total confiança.

....À medida que seu ego se torna mais forte, você vai perdendo a si mesmo. Você pode estar lutando e saindo vitorioso, não sabendo absolutamente que não se trata de um ganho, mas de uma perda. Ensina-se a todas as crianças a lutarem, de diferentes maneiras. A competição é uma luta, ser o primeiro da classe é uma luta, ganhar um troféu num jogo é uma luta... Essas coisas são preparações para a sua vida. Depois luta-se numa eleição, luta-se por dinheiro luta-se por prestígio. Toda essa sociedade está baseada em lutas, competição, briga, na colocação de cada indivíduo contra o todo.

... ‘Entrega’ significa ‘nenhuma competição, nenhuma briga, nenhuma luta’... simplesmente relaxar com a existência, aonde quer que ela conduza. Sem tentar controlar o seu futuro, sem tentar controlar as conseqüências, mas, permitindo-as acontecerem... sem nem pensar nelas. A entrega está no presente; as conseqüências estão no amanhã. E a entrega é uma experiência tão deleitosa... um total relaxamento, uma profunda sincronicidade com a existência.

A entrega é uma abordagem totalmente diferente. Seu primeiro passo é o abandono do ego, lembrando-se de que vocês não estão separados da existência: contra quem, então, estão lutando? Você não é separado das pessoas: contra quem, então, você está lutando? Contra si mesmo... e esta é a raiz causal da miséria. Seja contra quem for que você esteja lutando, você está lutando consigo mesmo - porque não há nenhum outro.

...A entrega é uma profunda compreensão do fenômeno de que nós somos parte de uma só existência. Nós não podemos produzir egos separados: somos um com o todo. E o todo é vasto, imenso. A sua compreensão ajudará você a seguir com o todo, aonde quer que ele vá. Você não possui uma meta separada do todo, e o todo não tem nenhuma meta. Ele não está indo a algum lugar. Ele está simplesmente acontecendo aqui.

A compreensão da entrega o ajuda a ficar simplesmente aqui, sem quaisquer metas, sem nenhuma idéia de alcançar, sem nenhum conflito, batalha, luta, sabendo que seria lutar contra si mesmo - que é simplesmente tolice.
A entrega é uma profunda compreensão.
Ela não é um ato que você deva praticar.

Qualquer ato faz parte do mundo da luta. Aquilo que você tem de fazer vai ser uma luta. A entrega é simplesmente compreensão.
E aí, então, vem um silencioso relaxamento, fluência com o rio, desinteressado do aonde ele está indo, despreocupado de que você possa ficar perdido... nenhuma ansiedade, nenhuma angústia... porque você não está separado da totalidade, sendo assim, seja o que for que vá acontecer, vai ser bom.

Com essa compreensão, você vai ver que não há mistura: a compreensão não pode se misturar com a ignorância; o insight dentro da existência não pode se misturar com a cegueira; a consciência-em-si não pode se misturar com a inconsciência-em-si.
E a entrega não pode se misturar com as diferentes espécies de lutas - isso é uma impossibilidade.

Apenas deixe-a afundar dentro do seu coração, e você descobrirá uma nova dimensão desabrochando, na qual cada momento é uma alegria, na qual cada momento é uma eternidade em si mesmo.

OSHO, Além da Psicologia

terça-feira, 26 de abril de 2011

Incertezas

::Rubia A. Dantés::



Estamos em um tempo onde muitas coisas que nos davam segurança e em que confiávamos plenamente já não servem mais...

Para quem sempre aprendeu a colocar o poder lá fora, isso fica muito complicado e gera uma enorme insegurança. Aprendemos a querer certezas e quase não sabemos lidar com o que é incerto.

Cercamo-nos e acumulamos coisas que nos dão uma aparente estabilidade e segurança"... fora e dentro de nós. Fora acumulando coisas... dentro acumulando memórias e crenças que acreditamos que nos protejam e garantam uma estabilidade.

Num mundo onde a única coisa certa é a mudança... a impermanência... buscar estabilidade parece bem incoerente. Mas aprendemos assim e passamos a vida construindo castelos de areia, pensando serem sólidas construções...

Ao perceber que não podemos mais confiar em tanta coisa fora de nós, que antes nos oferecia "segurança" nós sentimos, às vezes, um frio na barriga... uma vontade de correr; mas... correr para onde?

Estamos em um tempo onde as estruturas que foram criadas em cima de coisas ilusórias estão sendo quebradas... tudo que foi criado com base em crenças e conceitos equivocados está sendo revolvido até as raízes.

Saber fluir com a incerteza é uma chave preciosa, uma vez que nossas certezas se baseavam nos conceitos do ego... que agora, muitas vezes, não vê saída diante das situações que nos são colocadas. Parece que o Planeta -e cada um de nós- está sendo passado a limpo e que nada mais pode ficar guardado debaixo do tapete...

É justamente quando nos julgamos sem saída... quando já esgotamos os recursos do ego... que nos rendemos...

Entregamos o controle a uma Força maior, porque reconhecemos que não podemos fazer mais nada... e aí os milagres podem acontecer... Nós não podemos encontrar a saída... mas a Divindade que está em cada um... e em Todos ao mesmo tempo... pode sempre nos levar além...

Estamos em meio a profundas transformações e diante de nós há a possibilidade de nos tornarmos quem verdadeiramente somos... sem os acréscimos e as limitações do ego...
Podemos acessar a simplicidade da Alma e com ela fluir livremente, fazendo a nossa parte no Plano Maior...

É preciso deixar ir tudo que ainda nos prende e limita e aprender a fluir na incerteza... aprender que não precisamos nos cercar de tantas coisas, confiando que o Grande Mistério nos dá o que precisamos a cada dia... Sei que esse não é um aprendizado fácil, diante da forma pela qual aprendemos a lidar com a vida... mas é o que de melhor podemos fazer nesses tempos de tantas mudanças.

Se estamos abarrotados até o teto de coisas e de memórias, nem deixamos espaço para que o novo... o que está além de tudo que é conhecido... possa se manifestar.

Mesmo as coisas que são muito boas podem prender... e às vezes representam uma prisão muito mais difícil de sairmos dela.

Se nos apegamos, mesmo ao que é bom e queremos manter aquilo em nossa realidade, é porque ainda não confiamos que o Universo possa nos trazer algo ainda melhor...

Soltar... deixar ir... aprender a fluir com a incerteza... sabendo que ela pode ser uma fonte inesgotável de surpresas... arriscar o novo... e nos abrir para a Vida que está sempre se renovando a cada novo dia... nos dá forças para acompanhar esse tempo... que pode não ser o mais fácil... mas é o que temos e pode esconder nas aparentes dificuldades a semente da tão buscada felicidade.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Borbolete-se

::Ana Ester Nogueira::



"Rudolf Steiner, pai da Antroposofia, disse que: as borboletas são flores que se desprenderam da terra... E que as flores são borboletas que a terra apreendeu... Seja como for, se as flores marcam a primavera, as borboletas são seu símbolo maior.

São quatro fases da mesma vida: ovo, lagarta, crisálida e borboleta. Enquanto ovo, é princípio vivo, puro. Representa a potencialidade do ser, guardada dentro de um invólucro de heranças parentais. É fundamental para desenvolver a solidez das bases estruturais do indivíduo. Mas num determinado momento, torna-se necessário romper com essa capa de proteção, para caminhar sobre as próprias pernas.

A lagarta tem o aprendizado da terra, do rastejar, das coisas que se processam lentamente. Simboliza os cuidados com o mundo físico, com os aspectos materiais que compõem a existência cotidiana. Pode ser o lado pesado da vida.

A crisálida é o encapsular para gestar. É como se retornasse ao estágio do ovo, mas só que por escolha pessoal. É criar um casulo para si mesmo, como forma de conectar-se com seus sentimentos, sua interioridade e seus próprios desejos.

E, finalmente, as asas libertam a borboleta! Mas, para se chegar à borboleta, é preciso superar o conforto e a comodidade do “já conhecido”... É preciso deixar morrer o velho e partir ao encontro das possibilidades em aberto, sem certezas, sem garantias.

A borboleta é a lição viva de que tudo é passageiro.

Assim também somos nós. Uns vivem para sempre no ovo, outros jamais passam de lagarta. E tem gente que vive gestando um sonho, um ideal, mas sem nada realizar... Ainda existem aqueles que, com esforço, se libertam, ganham asas e voam leves! Pousam aqui e ali, no colorido das flores, e só de existir fazem a vida mais bela!

Identifique em que fase você está e observe como fazer para processar a sua metamorfose. Viver é cumprir fase por fase. Desapegar-se do antigo e entregar-se ao novo até ser capaz de voar. Desperte e tente uma nova forma! Deixe acontecer em você esse misterioso processo de se abrir para florescer. Deixe aparecer suas asas, suas melhores cores, seu vôo!"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Encare seus sonhos

::Evaldo Ribeiro::



Talvez você seja uma pessoa comunicativa, espontânea, motivadora, conselheira, que fale tudo sobre sua vida, sem escolher quem ouve sobre sua intimidade, acreditando que todos ao seu redor torcem por sua felicidade. As pessoas que ainda não desenvolveram essas qualidades recorrem à sua conversa atraente, buscando preencher o vazio que existe dentro delas, ocasionado pela falta de ousadia.

Certamente quem ouve os seus conselhos ganha uma carga energética muito positiva e você, depois de ter passado sua luz para o outro, fica sentindo-se sugado. Proteja-se e selecione melhor as pessoas com quem deva compartilhar suas aventuras bem-sucedidas. Seja cauteloso com o que fala, não cante a sua glória antes da hora. Muitas vezes comemoramos a vitória de um projeto que já estava praticamente concretizado, mas, de repente, as coisas entram em descompasso e acabam encalhando.

Você pode até não acreditar, mas existem pessoas que manipulam e vibram forças contrárias, quando percebem que alguém de seu convívio está saindo do ninho da incapacidade e voando acima do medo de fracassar (sentimento que as mantém paralisadas na frustração); essas pessoas têm muita facilidade para guardar memórias negativas e quando descobrem que estamos em busca de um objetivo, entram no arquivo dramático delas, relembrando e nos contando histórias doloridas e comoventes de outras pessoas que fracassaram em busca semelhante. Com isso, nos envolvem emocionalmente e afirmam que estão nos alertando dos perigos da vida, porque só querem o nosso bem. Mas esse artifício emotivo não passa de um jogo controlador, que apenas visa manter-nos aprisionados ao seu lado, para ter quem as ouça. Só ficam aliviadas quando nos fazem sentir culpados.

É claro que, deixando uma pessoa fragilizada pelo sentimento de inferioridade, essa será facilmente manipulada e aceitará que sua mente seja transformada em lixeira psicológica, para descarrego da culpa e do medo dos outros. Com certeza, você já se deparou com pessoas talentosas, mas que parecem viver o tempo todo com a energia travada, pois nada do que tentam fazer flui com facilidade. Estão sempre entre dois passos para frene e dois passos para trás. Sentem-se frustradas e culpadas até por coisas que não fizeram, e se colocam abaixo dos méritos conquistados, pois rejeitam o reconhecimento. Isso porque essa crença derrotista impregnou o subconsciente, como um monstro íntimo que destrói a integridade e possibilidades.

Se você tiver a oportunidade de ouvir a história de vida dessas pessoas, em pouco tempo perceberá que elas ainda não se libertaram das sombras de seu passado difícil. Prosseguem em uma caminhada de tartaruga contra a própria vontade, tropeçando nas pedras que elas mesmas colocaram em seu caminho. Não percebem que as barreiras que as distanciam daquilo que mais buscam são muralhas mentais criadas pelos resultados negativos de seus fracassos anteriores.

Para quebrar o elo com esses altos e baixos, é preciso que uma nova postura seja adotada em seu jeito de agir e de se comunicar. Portanto, em um ambiente profissional, procure separar as situações de leveza daquelas que exigem mais seriedade e atenção, transmita uma boa impressão. Sinta os momentos antes de brincar com alguém. Cuidado para não se machucar! Demonstre interesse no bem estar das pessoas. E lembre-se: pessoas muito brincalhonas transformam a própria vida em um livro aberto e, por isso mesmo, não são respeitadas por pessoas que conduzem a vida com uma postura mais fechada.

Quem fala demais não transmite segurança e nem responsabilidade em seu comportamento.
Guarde seus sonhos no silêncio e só fale de seus planos, em ocasiões, cujo objetivo seja tratar da concretização deles. E lembre-se: apenas para pessoas que estejam realmente interessadas em apoiar as suas idéias. Agindo com moderação, evitará expectativas e cobranças daquelas que estão abaixo da realização.

Portanto, nunca desista daquilo que seu coração lhe pediu para seguir. Nada é mais certo do que aquilo que sentimos. Qualquer luta contra o que vem de dentro de você é em vão, pois quem sempre vence é o sentimento. Por isso diga logo “sim” ao que sente e desça do muro, antes que ele caia e leve seus sonhos para baixo dos escombros.

Assuma o comando de sua vida e se perdoe pelos passos errados que deu. Você não é mais culpado por nada que já foi e, se ninguém pode apagar o passado, então se liberte do pêso da consciência e recomece do zero, sem olhar para trás.

Acredite: você nasceu predestinado a ser um vencedor e, apesar das situações estarem levando seus sonhos, não tema, pois não está sozinho em sua caminhada. Há, sim, um lugar reservado no pódio, que só poderá ser ocupado por você, quando ultrapassar seus desafios. Esse lugar jamais será ocupado por outra pessoa.

terça-feira, 22 de março de 2011

Para onde foi a sua alegria?

::Patricia Gebrim::



No meu entender, o maior sinal de sanidade que podemos ter é a nossa capacidade de sentir alegria, que é esse sentimento que nos deixa leves, mais próximos da criança que habita em nós, que nos faz ter uma visão positiva do mundo, que nos conecta com as coisas boas que existem ao nosso redor.

Quando estamos alegres somos mais gentis com nosso próprio ser, nos permitimos ouvir músicas de que gostamos, nos permitimos mover o nosso corpo com entusiasmo, tornamos nossa vida mais colorida. Mas não è só isso... Quando estamos alegres também somos mais gentis com os outros. Sorrimos mais, temos mais paciência e tolerância, somos mais generosos em nossas atitudes.

Não adianta termos uma vida cheia de coisas que queremos se o preço para obtê-las é a nossa alegria. Porque no final é mais ou menos isso o que acontece. Criamos vidas tão complicadas e atarefadas que acabamos sobrecarregados, e a nossa alegria fica lá, soterrada embaixo disso tudo, sem conseguir espaço para nos fazer sorrir.

Experimente isso: saia para passear num dia lindo de sol, sinta a oportunidade de se perceber leve, solto, movido pelo prazer de buscar contato com a natureza. Sinta a alegria movendo cada um de seus passos.

Agora tente fazer o mesmo levando com você seu laptop, uma mochila cheia de roupas, as pastas com os contratos que terá de assinar no dia seguinte, o livro de leitura que terá de levar para seu filho mais tarde, as frutas que comprou no supermercado, etc. etc.

Será que vai aproveitar o passeio da mesma forma? Os braços ocupados, as costas arqueadas sob todo aquele peso. Sinta isso... Será que você vai conseguir sentir o vento agitando seus cabelos? Vai perceber a forma sutil como as nuvens se dissolvem ao vê-lo passar? Claro que não!

Apesar de o caminho ser exatamente o mesmo, você provavelmente se sentirá irritado, com as costas doendo pelo peso da mochila, a mente apressada, andando à sua frente
sem perceber o momento presente. Impossível sentir alegria dessa maneira! E é exatamente assim que a maioria das pessoas vive as suas vidas nas grandes cidades,
nos dias de hoje.

O que fazer então? Abandonar tudo? Jogar o laptop de cima da ponte? Fazer uma linda fogueira com os contratos? Jogar as frutas e fazer greve de fome? Abandonar a família e virar um eremita?

Novamente... CLARO QUE NÃO! Mas talvez você possa abrir espaços no meio do seu dia para celebrar a alegria. A alegria precisa de leveza, de mãos soltas, livres de tanta carga, precisa de uma mente livre de tantos pensamentos. Precisa de momentos de contemplação. A vida não pode ser só ação. É preciso espaço para a contemplação.

É na contemplação que alimentamos a nossa alma. Não há alegria sem alma.

Se você quer a sua alegria de novo, terá de lutar por ela, abrindo espaço em sua agenda, como uma pessoa perdida na selva precisa abrir caminho até encontrar o rio
que pode matar a sua sede. Entenda que a sua vida não é algo que simplesmente acontece a você, como se você não tivesse nada a ver com isso. Você faz parte da sua vida! Você a cria a partir das escolhas que faz. Inclua a alegria nas suas escolhas. E entenda que se você recuperar a alegria, todo o resto de sua vida fluirá melhor,
com mais leveza e menos nós.

A alegria é a verdadeira "desatadora de nós", acredite!

quarta-feira, 16 de março de 2011

A caricatura da vida

::Simone Arrojo::



Sabe aquelas caricaturas engraçadas de pessoas que às vezes tem um queixo um pouquinho grande e na caricatura aparece completamente exagerado? O caricaturista exalta e exagera características marcantes das pessoas mostrando, através da imagem, quem ela realmente é. A vida nos desenha episódios da mesma maneira, exagerando nos fatos e acontecimentos para tomarmos consciência de quem realmente acreditamos que somos. Eu digo acreditamos porque nos deixamos invadir por crenças e opiniões alheias e acreditamos nisso sem buscarmos a nossa verdadeira identidade.

Sabe aquelas inseguranças íntimas, que não temos coragem de contar para ninguém? Pois é, a vida as faz aparecer de modo exagerado para que possamos curar, refletir e mudar essas inseguranças. Tudo começa quando nos incomodamos com algo em alguém ou por alguma situação. De repente ficamos com raiva, indignados e nos sentindo vítimas de situações que não nos fazem bem, porém não conseguimos nos desvencilhar dela. Quando isso acontece, é importante que identifiquemos logo o que devemos aprender com aquela situação para não ficarmos sofrendo e nos sentindo vítimas. Quem de nós nunca passou por situações semelhantes, e nos pegamos esbravejando: O que eu fiz para merecer isso? Por que fui cair justamente nessa família? Sempre arrumo chefes ignorantes!!, etc..

Na verdade, TODOS os acontecimentos das nossas vidas refletem TUDO o que sentimos internamente, de modo mais EXAGERADO, para que possamos realmente perceber e aprender as lições. Porém, como vivemos meio dormentes, não conseguimos enxergar isso e começamos a culpar o outro, quando o acontecimento é ruim e nos tornarmos arrogantes quando os acontecimentos são bons.

Vejamos, se conseguimos fazer um grande projeto dar certo... EU FIZ. Se aquele projeto deu errado, foi por causa do chefe, do homem da fábrica, do destino, etc...

A doença, nada mais é do que o exagero do desespero interior.
Ficamos doentes porque não estamos enxergando os conflitos emocionais e lá vem a vida de novo exagerando o conflito, colocando dores e, literalmente, sentimos na pele esse resultado.

Para realmente vivermos a vida de forma sábia, precisamos saber reconhecer que tudo é reflexo de nossos sentimentos e crenças interiores.

Se você arrumou alguém como parceiro que não te valoriza, que te diz palavras e frases que deixam a sua auto-estima lá embaixo, preste atenção em suas palavras e verifique se não é exatamente aquilo que você acha de si mesmo.

As outras pessoas conseguem captar nossas inseguranças e interagem de forma às vezes cruel e exagerada, nos agredindo para acordarmos.. É quase que matemático e racional.

Uma vez, em uma consulta, uma pessoa reclamava muito da forma como as pessoas a tratavam e como isso a incomodava. Então pedi a ela que fizesse uma lista das formas e palavras que estas pessoas utilizavam. Ela fez a lista com muito gosto, sentindo-se a vítima da situação, pensando que eu fosse ajudá-la a crucificar estas pobres pessoas. Quando ela me mostrou a lista, havia insinuações de que ela era indisciplinada, gorda, relaxada e folgada. Eu perguntei a ela se, no fundinho, ela se achava com aquelas características. Ela fechou os olhos e chorou copiosamente uns 15 minutos. Quando ela parou de chorar a primeira frase que ela disse foi: A vida é mágica.

E a vida é mágica mesmo!!! Ela traz acontecimentos para nos ajudar a crescer. Agora, quanto mais nos conhecemos por iniciativa própria, menos sofrimento e dor são necessários para o nosso aprendizado.

Como nesse planeta Terra somos a primeira escala da razão, ainda temos muitas coisas emocionais para serem transferidas do modo analógico para o digital e isso leva algum tempo. Quanto mais utilizamos o nosso racional para nos ajudar a entender sentimentos e atitudes primitivas, mais crescemos.

Por isso, faça uma lista de acontecimentos bom e ruins para ajudá-lo(a) na identificação de dificuldades que precisam ser trabalhadas. Exemplos:

Bons:

As pessoas sempre são minhas amigas
Aonde eu vou as pessoas abrem as portas
Meu cachorro me adora
Meus filhos me admiram
Todos na empresa acham que eu deveria ganhar mais, etc

Ruins:

Meu marido me acha barriguda
A minha vizinha diz que sou fofoqueira
Ninguém me valoriza nessa empresa, na que eu estava aconteceu a mesma coisa, etc..

Com essa lista, você pode escolher ser a vítima ou the best. Se eu fosse você agradeceria por enxergar tudo isso e escolheria ser humilde: nem julgadora pelos seus defeitos, nem arrogante pelas suas coisas boas. Simplesmente verdadeiro com você mesmo(a). Não existe coisa melhor nesse mundo do que enxergar a própria verdade.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Num belo dia... viramos abóboras!!

::Sonia B. Hoffmann::



Quantas e quantas vezes ficamos "matutando" para fazer e dizer as coisas certas e tentar evitar o máximo possível polêmicas, melindres, mágoas e insatisfações desnecessárias ou improdutivas naquele momento em nosso ambiente familiar, laboral e social?

Para isto, não raro lançamos mão de silêncios, desculpas, afastamentos e até mesmo da tão conhecida "mentirinha piedosa" a fim de amenizar situações. Nem sempre, no entanto, estes nossos estratagemas são interpretados pelas outras pessoas da mesma forma ou mesmo objetivo pelo qual os adotamos e a confusão está feita! Na maioria das vezes, elas ficam melindradas conosco e, prontamente, a imaginação fértil é detonada em algum ponto da inteligência, e porque não do instinto, surgindo verdadeiras pérolas de elocubrações, fantasias ou quaisquer outras hipóteses - menos aquelas razões que realmente sustentam o nosso comportamento.

Diremos, então, que não somos compreendidos e, muitas vezes, nos colocamos em uma posição de vitimização e mesmo de mártires, desconhecendo a enorme dificuldade dos outros em decodificarem o lógico, o óbvio. Tal qual uma bola de neve, comportamentos contraditórios chocam-se e vão aumentando o distanciamento. Aparecem novas mágoas, surgem diferentes desculpas e as melancias desajeitam-se no andar da carruagem... e deixamos de ser príncipes ou princesas, tornando-nos abóboras que devem ser atiradas aos porcos ou serem decoradas para o festejo do Dia das Bruxas.

Em algumas circunstâncias, contudo, muitos de nós nos impactamos diante da reação do familiar magoado, do colega despeitado, do companheiro entristecido frente a nossa conduta, opinião ou da pretensa "desfeita". Digo impactados porque a nossa intenção realmente não foi a de causar mágoa, despeito, tristeza. Justamente o oposto. Para evitar a discórdia, a insatisfação ou a opressão em fazermos algo que não temos nenhuma vontade ou por considerarmos que aquele evento irá resultar nestas possibilidades, adiamos a decisão ou abrimos um espaço para que o outro não realize a ação ou a repense. a partir da sua própria iniciativa. Tentamos abrir um espaço onde também esta pessoa perceba-se como um ser tão falível quanto nós e com a habilidade para o entendimento e a reorganização de seus planos, perspectivas e convites - considerando sempre que também temos direito ao livre-arbítrio e à vontade ou não de fazer, dizer ou pensar alguma outra coisa que não seja somente aquilo que esperam de nós.

Me questiono, porém, se não estamos sendo muito exigentes com o outro em sua capacidade de compreensão e captação de nossos motivos, para além daquilo que julgam ter ouvido ou visto. A fim de não enveredar pelos caminhos e descaminhos de intrigas, controvérsias, embates e julgamentos estressantes, uma atitude interessante e inteligente não seria a exposição com serenidade, prudência e honestidade das nossas razões, sem a busca constante de subterfúgios?

Há pessoas que não gostam de palavras cruzadas, que não sabem ou não querem brincar de quebra-cabeças e que não permitem-se alargar seu poder de sensibilidade. Ou seja, há pessoas que desconhecem um mundo fora do seu mundo. Portanto, se não é possível uma conversa franca e direta espontaneamente, quem sabe nos munimos com diferentes modos de ser o mais verdadeiros através do tom de voz, da argumentação simples, da
aceitação de que desentendimentos e recusas irão certamente em algum momento acontecer e de que, nem por isto, precisamos estremecer relações, enfartar ou agir tal qual criança mimada e acabar com a brincadeira, levando embora a bola ou a boneca.

Então, ao invés daquela mentirinha de que estamos com "uma dor de barriga sideral", dizemos simplesmente "sei que um encontro entre nós será ótimo, mas sou alérgica a pelos de cachorro e estou estressada para ouvir gritos... por que não fazemos o encontro aqui em casa ou em um local mais silencioso?" Ou, em lugar de fecharmos a questão em "já tenho um outro compromisso", ponderamos apenas "um almoço reunindo toda a família é uma ideia bastante interessante, mas para evitar os constrangimentos já acontecidos em outros eventos, não será melhor pensarmos em promover atividades lúdicas para motivar a participação de todos e desmotivar o surgimento do tédio e da fofoca?".

Uma vez, li em algum dos textos de Rubem Alves que deveríamos ter em nossa sala uma caixa de brinquedos. Entendo que, quando as visitas chegassem, a conversa fosse esmorecendo e desvirtuasse para pontos desagradáveis, prudentemente tiramos uma carta da manga e tchan-tchan-tchan... abrimos a tal caixa e de lá saltam piorras, baralhos, dominó, damas, carrinhos de brinquedo, bonecas de pano, fantoches e tantas e tantas outras criatividades. Que divertido será então o nosso encontro. Já estou até ouvindo as risadas, as apostas, as entonações de artistas, mágicos, cantadores e encantadores!

Assim, caríssimos e caríssimas, será que não podemos deixar a vida ser conduzida de maneira mais leve, franca e menos angustiante; com menos queixas, com menos medos e mais alegria e oportunidades de crescimento?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

12. Reverência perante a vida!

::Bert Hellinger::



Relacionamentos de casal têm a ver com a vida. Através do relacionamento de casal a vida é passada adiante. Mas de onde os casais têm a vida? A vida é deles? Ou ela apenas flui através deles? Ela flui através deles e vem de longe. Independentemente de como são o homem e a mulher, a vida flui através deles em sua plenitude. O homem e a mulher passam a vida adiante em sua totalidade, da mesma forma que a receberam em sua totalidade de seus pais, como os pais deles também a receberam de muito longe.

Então a vida independe de como são o pai e a mãe de uma criança. Sob este ângulo, podemos e precisamos olhar de outra forma para nossos pais, e os pais também precisam olhar de forma diferente para os seus filhos. Com reverência. O filho olha para os pais e olha através dos pais para um passado longínquo, de onde a vida vem originalmente. Quando toma a vida, toma a vida não apenas dos pais e sim de longe. Por isso, todos os pais são certos. Sob este ângulo não existem pais melhores e piores. Existem apenas pais.

Quando reconhecemos isso e a isso nos submetemos, podemos tomar de nossos pais a vida em sua totalidade. Porém, quem rejeita internamente um de seus pais, quem os acusa, fecha o coração diante da plenitude da vida. Recebe apenas uma parte ou, mais exatamente, toma apenas uma parte. Contudo, cada um de nós também é determinado de um modo bem específico através dos pais.

Tenho diante de mim a imagem de uma árvore. No outono o vento sopra e espalha as sementes. Uma semente cai na terra fértil, uma outra na terra cheia de pedras e cada semente precisa desenvolver-se onde caiu, não pode escolher o lugar. Da mesma forma nós também não podemos escolher nossos pais. Eles são o lugar de onde brota nossa vida, apenas aí. Independentemente de se a semente caiu em terra fértil ou em um solo cheio de pedras, ela se torna uma árvore de verdade e também dará frutos. A semente se espalha novamente, e a mesma árvore crescerá diferentemente, em lugares diversos.
Para que possamos realmente crescer, precisamos concordar com o lugar ao qual estamos vinculados, seja ele como for. Independentemente de ter “vantagens” ou “desvantagens”, cada lugar nos força a um desenvolvimento especial, tem chances especiais e coloca determinados limites. A vida é, tanto em um lugar como no outro, pura e autêntica.

Aplicarei isso agora ao relacionamento de casal. Um casal tem um filho. Nesse filho o marido e a mulher se unem e se tornam pais. Algumas mães dizem que o filho deve-se desenvolver segundo ela, e alguns pais dizem que o filho deve desenvolver-se segundo ele. O que acontece nesse momento? A vida não é respeitada, pois ela está certa tanto do modo que surge, através do pai, tanto do modo que surge, através da mãe. Uma vez compreendido tal fato, o pai ama a vida no filho também da forma que esta surge através da mãe, e a mãe ama a vida no filho também da forma que esta surge, através do pai, com todas as particularidades que um ou outro possui.

Isso é humildade. Fazemos uma reverência, respeitando a vida que vem do parceiro, diante da vida como um todo. Quando um homem ou uma mulher diz que a vida que vem dele ou dela é melhor do que aquela que vem através do parceiro, apodera-se da vida. Acredita possuí-la como algo pessoal e assim se eleva acima dela. Isso prejudica a sua alma, prejudica o relacionamento de casal e filho. Portanto, aqui nós respeitamos a vida.


Espero que todos tenham desfrutado os ensinamentos desse nosso mestre! Qualquer dúvida ou comentário que quiserem fazer entrem em contato: fermayoral@gmail.com
É sempre um prazer encontrar textos para compartilhar com vocês!! E voltem sempre que desejarem! Abraços, Fernanda.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

11. Amor perante a despedida

::Bert Hellinger::



Dois anos atrás esteve em um workshop um casal idoso. O homem tinha câncer com metástase e os dois tinham mais de 70 anos. Eles queriam constelar comigo a sua família. Eu pedi que viessem até mim e se sentassem ao meu lado, primeiro o homem e o lado dele a mulher. Então disse a eles: toda relação termina, ela existe apenas durante um tempo e chega a hora na qual precisamos nos despedir um do outro. Durante a relação nós nos exercitamos nesta despedida. Cada crise em uma relação de casal nos força a nos despedirmos de algo. Afinal. A relação de casal é sempre uma relação perante o morrer. Todo esse empreendimento – relação de casal – existe apenas porque a morte existe. Os pais têm filhos para que a vida prossiga, quando morrerem. O seu amor é sempre um amor perante a despedida e ela é dolorosa.

Mas nessa despedida algo especial está oculto. Quando vemos que uma relação é apenas uma relação temporária, então o tempo, com o qual somos presenteados, torna-se precioso. Quando isso é reconhecido e apreciado, a relação atinge uma profundeza especial. Então eu disse a esse casal: agora chegou a hora da despedida. A mulher chorava muito. Eu a convidei a olhar nos olhos do marido e a dizer: “Eu permaneço enquanto me é permitido. Eu amo você enquanto me é permitido. Eu cuido de você enquanto me é permitido.” E o homem olhou nos olhos de sua mulher e lhe disse: “Eu permaneço com você enquanto me é permitido.” De repente vimos um amor imenso entre os dois, a profundeza de um amor, raramente vista.

Assim, podemos transformar nossa tristeza em um amor muito especial. O companheiro também sente dor quando vê a dor no outro. E quando os dois dizem: “Eu permaneço com você enquanto me é permitido. Eu amo você enquanto me é permitido”, eles se curvam diante de algo maior, algo que está para além do amor e da vida, e o amor que sentem um pelo outro se torna especialmente precioso.


Atenção: Infelizmente nosso especial Relacionamento de casal está chegando ao fim. Amanhã postarei o último e mais importante dos textos -"Reverência perante a vida"- para fecharmos com chave de ouro esse ciclo! Aguardo a visita vocês amanhã!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

10. Ausência

::Bert Hellinger::



Estamos ausentes quando estamos presentes em algum outro lugar. Por isso a nossa ausência adquire o seu significado e o seu valor ou desvalor, pelo significado do valor ou desvalor de nossa presença. Essa ausência pode ser espacial, mental e interna. O clássico “cientista distraído” é ausente por estar presente de forma centrada em algum outro lugar.

O homem que deixa a sua casa de manhã e vai ao trabalho se torna tanto espacial como mental e internamente ausente de sua casa e família. Ao mesmo tempo, ele se torna presente em seu local de trabalho, seu trabalho e sua tarefa. Ele não esta completamente ausente de sua família, principalmente quando compreende o seu trabalho ou a sua tarefa como algo a serviço de sua família, então ela também está presente em seu trabalho, mais como pano de fundo, sem que o seu trabalho ou a sua tarefa sejam prejudicados. Quem sabe ela até estimule esse trabalho através de sua presença latente e ajude o homem a se concentrar mais.

Diferentemente do que quando a família está tão presente, que a presença do homem em seu trabalho e prejudicada, isto é, ele se torna mentalmente ausente por causa dessa presença, fato esse que pode ocorrer, por exemplo, quando está preocupado com sua família. Então a presença da família não prejudica apenas os seu trabalho, mas também a sua família, pois talvez o seu desempenho diminua e isso pode acarretar consequências graves também para a família se, por exemplo, perder o seu trabalho.

Pode ocorrer também o contrário: quando alguém que volta de seu trabalho se encontra ainda tão ocupado com ele, fica, embora parcialmente presente, mentalmente ausente em casa. Às vezes o parceiro, ao reconhecer amorosamente a presença do trabalho, consegue ajudar o outro a se tornar mentalmente presente em casa, para que consiga deixar o trabalho e as preocupações relacionados a ele, tornando-se assim mental e internamente presente na relação e na família.

Porém é diferente quando o trabalho é de um tipo que não permite a ausência, de forma que a presença em casa irá prejudicá-lo. Por exemplo, o caso de um médico, político ou algum outro tipo de pessoa que é responsável também por outros, por outras famílias. Aqui o parceiro pode, ao compartilhar a responsabilidade, apoiar o outro em sua ausência e, apesar de sua própria ausência, estar presente com ele.

O ideal da constante presença do parceiro e a experiência de que ele precisa estar presente o tempo inteiro, de que a sua presença tem prioridade em relação a tudo pode estar relacionado ao fato de que, no passado, o trabalho era apenas uma outra forma de presença também em casa, como por exemplo, em uma fazenda ou também no caso de muitos artesãos. Essa forma de presença constante é atualmente uma exceção. Se esse ideal é transferido para as condições atuais tão diversas, isso conduz, no caso dos parceiros, a expectativas que no podem ser satisfeitas, provocando decepções e sofrimento.

O problema se intensifica quando os dois parceiros assumem um trabalho e uma tarefa fora da família. Encontram-se assim não apenas grande parte do tempo, mas também mental e internamente afastados dos outros da família. Assim a família se desloca do centro da atenção, já que a profissão solicita mais do casal do que a relação e a família. “Mais”, não no sentido de valor, e, sim, no sentido de preparo mental, concentração, risco e responsabilidade. Enquanto as exigências da família e da relação se encontram no âmbito do trivial e no âmbito daquilo que está disponível a todos, o trabalho e as tarefas exigem frequentemente uma formação e experiência nem sempre acessíveis a todos da mesma forma. Por isso, esses dois fatores muitas vezes distinguem e separam as pessoas uma das outras ao invés de aproximá-las. Isso se torna evidente principalmente em parceiros que, para além de seu relacionamento e de sua responsabilidade como pais, estão ativos em profissões com tarefas diferentes. A sua ausência em relação ao outro se torna em função do tempo e de acordo com o sentimento, frequentemente maior e mais profunda do que a sua presença.

A pergunta agora é: como que a presença dos dois, tanto na relação quanto no trabalho e nas respectivas tarefas pode ser preservada e aprofundada, sem que um ou outro sofra com isso? Como é que os dois podem ser conectados através das duas coisas, de modo que a sua presença se intensifique tanto na família como na profissão, como também nas respectivas tarefas e responsabilidades? Na medida em que os dois se tornarem presentes em uma totalidade maior.


Atenção para a próxima postagem 24/02/2011 - Texto: Amor perante a despedida

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

9. Separação com amor

::Bert Hellinger::



Pergunta: Qual é a forma melhor e mais saudável de terminar um relacionamento?

Hellinger: Essa é uma pergunta importante. Tenho para isso um procedimento.

O primeiro ponto seria não procurar pela culpa, como se algo fosse depender da boa ou má vontade de cada um. Vimos aqui quantas influências do passado atuam (aqui ele fala dos laços familiares em que estamos emaranhados), e que cada um muitas vezes não sabe o que o impulsiona. Às vezes faço com um casal que quer ou precisa separar-se um pequeno exercício. Eu conto a eles uma história.

Um homem e uma mulher seguem felizes o seu caminho. A sua mochila está carregada de coisas boas e eles passam por jardins em flor e árvores repletas de frutos maduros. O sol brilha – e eles estão felizes. Então o seu caminho os conduz para uma montanha, as coisas se tornam mais difíceis e parte dos mantimentos que eles levaram é usada. No meio do caminho um dos dois se senta e está exausto. O outro ainda continua um pouquinho, então também os seus mantimentos acabam e ele se senta. Os dois olham para o vale, onde tudo foi tão bom – e começam a chorar.

O luto possibilita a separação, simplesmente a dor de não terem conseguido possibilita a separação. Então não existem mais acusações, apenas a dor. Através da dor podem se separar, mas podem se encontrar mais uma vez e se olhar nos olhos. Então o homem diz à mulher e a mulher ao homem: “Eu amei você muito e você me deu muito. Mantenho isso com amor e respeito. Também dei muito e você pode mantê-lo e respeitá-lo e lembrar-se disso com amor.” Depois o homem diz à mulher e a mulher ao homem: “Assumo a minha parte da responsabilidade por aquilo que não deu certo entre nós e deixo você com a sua parte. E agora deixo você em paz.” Este é um modelo para uma separação amororosa.


Atenção para a próxima postagem 23/02/2011 - Texto: Ausência

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

8. Vínculos

::Bert Hellinger::



Através da consumação sexual, isto é, a partir da plena consumação sexual – e isso significa a consumação e todos os seus riscos – forma-se um vínculo entre o homem e a mulher que é indissolúvel. Agora, talvez alguns vão dizer: isso é um ensinamento católico. Não se trata disso, pois o vínculo também se forma fora do casamento.

Então, não é o casamento que é indissolúvel e, sim, o vínculo entre um casal que se abriu para a consumação sexual, que é indissolúvel. Pode-se ver isso através do efeito. Após isso o casal não se separa mais. Quando eles se separam, podem fazer isso somente com muita dor e com um sentimento de culpa. Ninguém sai de um vínculo dessa qualidade sem culpa. Por isso o primeiro vínculo é o mais profundo.

Vínculos e amor não são a mesma coisa. Mais tarde alguém pode se envolver com um outro parceiro. Nessa relação o amor pode ser maior, o vinculo porém, é menor. Quando se separam, isso ocorre com menos dor e menos sentimento de culpa. Quando existe uma terceira, uma quarta relação, o vinculo se torna cada vez menor. Eles podem separar-se com mais facilidade. Após um tempo, a capacidade de se vincular praticamente se desperdiçou. Isso cessa.

Quando alguém se separa de forma leviana, então, mais tarde um filho se pune. Isso pode chegar a tal ponto que um filho se suicida como expiação para uma separação leviana. Não se deve brincar com isso.



Atenção para a próxima postagem 22/02/2011 - Texto: Separação com amor