segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Estamos com fome de amor

por Arnaldo Jabor

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que
disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que
assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão
batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e
transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam
sozinhas.
E saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram,
trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os
novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se
fosse,
era resolvido fácil, alguém duvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber
carinho
sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um
atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber
que
vão "apenas" dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos
nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.
Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como
voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão
distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de
relacionamentos Orkut, o número que comunidades como: "Quero um amor
pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra
ser sozinho!".

Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma
multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos
e
inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a
cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o
solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas
bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de
frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém
ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer
ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado,
"pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais
cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante
que vai embora não volta.

Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na
rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a
oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se
um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno
demais,
pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte
com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser
estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver
é
out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não
posso
me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma
hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora,
mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me
arrepender pelo resto da vida".

Antes idiota que infeliz!

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