quinta-feira, 19 de março de 2009

Resiliência

“O problema não é o problema. O problema é sua atitude com relação ao
problema.” (Kelly Young)

Hoje a tristeza me visitou. Tocou a campainha, subiu as escadas, bateu à porta
e entrou. Não ofereci resistência. Houve um tempo em que eu fazia o
impossível para evitar que ela adentrasse os meus domínios. E quando isso
acontecia, discutíamos demoradamente. Era uma experiência desgastante.
Aprendi que o melhor a fazer é deixá-la seguir seu curso. Agora, sequer
dialogamos. Ela entra, senta-se na sala de estar, sirvo-lhe uma bebida
qualquer, apresento-lhe a televisão e a esqueço! Quando me dou por conta, o
recinto está vazio. Ela partiu, sem arroubos e sem deixar rastros. Cumpriu sua
missão sem afetar minha vida.

Hoje a doença também me visitou. Mas esta tem outros métodos. E outros
propósitos. Chegou sem pedir licença, invadindo o ambiente. Instalou-se em
minha garganta e foi ter com minhas amígdalas. A prescrição é sempre a
mesma: amoxicilina e paracetamol. Faço uso destes medicamentos e sinto-me
absolutamente prostrado. Acho que é por isso que os chamam de antibióticos.
Porque são contra a vida. Não apenas a vida de bactérias e vírus, mas toda e
qualquer vida...

Hoje problemas do passado também me visitaram. Não vieram pelo telefone
porque palavras pronunciadas ativam as emoções apenas no momento e
depois perdem-se, difusas, levadas pela brisa. Vieram pelo correio, impressos
em papel e letras de baixa qualidade, anunciando sua perenidade, sua
condição de fantasmas eternos até que sejam exorcizados.

Diante deste quadro, não há como deixar de sentir-se apequenado nestes
momentos. O mundo ao redor parece conspirar contra o bem, a estabilidade e
o equilíbrio que tanto se persegue. O desânimo comparece estampado em
ombros arqueados e olhos sem brilho, que pedem para derramar lágrimas de
alívio. Então, choro. E o faço porque Maurice Druon ensinou-me, através de
seu inocente Tistu, que se você não chora, as lágrimas endurecem no peito e o
coração fica duro.

Limão e Limonada
As Ciências Humanas estão sempre tomando emprestado das Exatas, termos
e conceitos. A última novidade vem da Física e atende pelo nome de
resiliência. Significa resistência ao choque ou a propriedade pela qual a energia
potencial armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a
tensão incidente sobre o mesmo.

Em Humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de se resistir
flexivelmente à adversidade, utilizando-a para o desenvolvimento pessoal,
profissional e social. Traduzindo isso através de um dito popular, é fazer de
cada limão, ou seja, de cada contrariedade que a vida nos apresenta, uma
limonada, saborosa, refrescante e agradável.

Aprendi que não adianta brigar com problemas. É preciso enfrentá-los para não
ser destruído por eles, resolvendo-os. E rapidamente, de maneira certa ou
errada. Problemas são como bebês, só crescem se forem alimentados. Muitos
deles resolvem-se por si mesmos. Mas quando você os soluciona de forma
inadequada eles voltam, dão-lhe uma rasteira e, aí sim, você os anula
corretamente. A felicidade pontuou Michael Jansen, não é a ausência de
problemas. A ausência de problemas é o tédio. A felicidade é quando grandes
problemas são bem administrados.

Aprendi a combater as doenças. As do corpo e as da mente. Percebê-las,
identificá-las, respeitá-las e aniquilá-las. Muitas decorrem não do que nos falta,
mas do mal uso que fazemos do que temos. E a velocidade é tudo neste
combate. Agir rápido é a palavra de ordem. Melhor do que ser preventivo é ser
preditivo.

Aprendi a aceitar a tristeza. Não o ano todo, mas apenas um dia, à luz dos
ensinamentos de Victor Hugo. O poeta dizia que “tristeza não tem fim,
felicidade sim”. Porém, discordo. Penso que os dois são finitos. E cíclicos. O
segredo é contemplar as pequenas alegrias ao invés de aguardar a grande
felicidade. Uma alegria destrói cem tristezas...

Modismo ou não, tornei-me resiliente. A palavra em si pode cair no ostracismo,
mas terá servido para ilustrar minha atitude cultivada ao longo dos anos diante
das dificuldades, impostas ou auto-impostas, que enfrentei pelo caminho,
transformando desânimo em persistência, descrédito em esperança,
obstáculos em oportunidades, tristeza em alegria.
Nós apreciamos o calor porque já sentimos o frio. Apreciamos a luz porque já
estivemos no escuro. Apreciamos a saúde porque já fomos enfermos.

Podemos, pois, experimentar a felicidade porque já conhecemos a tristeza.
Olhe para o céu, agora! Se for dia, o sol brilha e aquece. Se for noite, a lua
ilumina e abraça. E assim será novamente amanhã. E assim é feita a vida.
Por Tom Coelho

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