:: Maria Aparecida Diniz Bressani ::
Jung diz que todo relacionamento é 50% de responsabilidade
para cada uma das partes. Um relacionamento, na verdade, é resultado do que as
partes colocam nele. Cada pessoa contribui com sua porção para a evolução da
relação e ajuda a determinar para que direção esta irá evoluir. Da mesma forma,
todas as pessoas que estão se sentindo sós estão à procura de alguém para se
relacionar, pois esta é condição essencial do ser humano.
No consultório, o que percebo é que as pessoas que trazem
suas queixas sobre seus respectivos e frustrados relacionamentos sempre tratam
de uma mesma dinâmica, ou seja, parece que escolhem sempre o mesmo tipo de
pessoa - embora os comportamentos possam até diferir muito - porque acabam por
estabelecer um mesmo tipo de relacionamento, como se houvesse um script já
pronto. No momento em que estabelecem suas relações, sempre com altas
expectativas de que aquele relacionamento seja diferente - afinal aquela pessoa
é "diferente" de todas as outras com quem já se relacionaram - acabam
por decepcionar-se por viver um déjà vu.
Nos scripts, a tônica frustrante pode variar para cada um. A
tônica pode ser a falta de respeito; para outros pode haver atração física, mas
falta admiração e até educação entre as partes ou por uma das partes; em outros
casos, existe manipulação ou traição; há scripts onde a dinâmica é inferiorizar
o outro ou confundi-lo, desestabilizando a sua auto-estima e a sua
autoconfiança.
Quando uma pessoa se vê entrando e saindo de relacionamentos
onde sua queixa quase sempre se resume numa única questão (como se realmente
houvesse um script prévio), deve parar e ater-se ao que acontece e ao porquê de
sempre atrair um mesmo tipo de pessoa, pois mesmo que lhe pareça ser diferente
no princípio (superficialmente), numa observação mais profunda, não o é.
Na psicologia junguiana entendemos que há um script interno
de como viver a vida que determina as escolhas pessoais, como também tem o
script interno de como "funciona" uma relação. Este script é a base
da própria personalidade. Por isso, é importante que uma pessoa que passa por
várias relações ou vive uma longa relação frustrante faça uma auto-análise
honesta para poder constatar o que de fato acontece. Afinal, tudo o que
acontece consigo lhe diz respeito, pois tem sua participação e contribuição. E
é preciso entender; o que acontece consigo é para resolver e não para ficar
sofrendo indefinidamente.
No começo os relacionamentos podem começar animados,
apaixonados e cheios de promessas de felicidade, mas com o passar do tempo
começa a ocorrer um acomodamento - como que em camadas - vai havendo uma
espécie de ajuste da dinâmica de personalidade de cada um e a relação - como
resultado - encontra sua própria dinâmica, que pode gerar satisfação ou
insatisfação para as pessoas envolvidas.
Numa relação tem que haver basicamente admiração, gentileza,
educação, respeito e atração física e intelectual - mútuas. O resultado será
companheirismo, amizade, excitação sexual e intelectual e satisfação - mútuas.
Quando falta algum desses ingredientes básicos fica sempre a sensação de
frustração e, conseqüentemente, gera sentimento de tristeza, decepção ou
menosprezo pelo outro, levando ao movimento de rompimento do relacionamento ou
a tentar modificá-lo. Se é escolhida a segunda opção, a partir daí começa uma
guerra e não mais uma relação amorosa (proposta inicial). E qual será o
resultado? A resposta: Sofrimento.
Tem pessoas que mantém relações seguidas ou vivem anos em
guerra com o outro acreditando que esse outro poderá mudar, mas na verdade, o
desejo é que conseguirá ter o poder de mudar o outro para aquilo que espera e
deseja para a sua própria satisfação.
E quando a relação acaba - para sua surpresa - muitas vezes
não entende o que aconteceu. Esse é um dos scripts - uma das formas de
manipulação. Aqui é perceber que ninguém tem o poder de mudar ninguém, que cada
um é o que é e que a mudança ocorre - quando e se ocorrer - devido à
necessidade interna e, nunca, por pressão externa.
Antes de tentar modificar alguém ou sofrer numa relação
frustrante é importante entender que cada pessoa tem sua personalidade própria
e que todos temos nossos "códigos" sobre o que é amor, sobre o que é
a vida e sobre o que é relacionamento.
E, embora muitas pessoas usem as mesmas palavras para
expressar suas necessidades sobre o amor, sobre a vida e sobre relacionamentos,
não significa que seus "códigos" sobre estas questões sejam
semelhantes. E a grande armadilha é que ao ouvir as mesmas palavras as
decodificam a partir de seu próprio "código" pessoal e acreditam que
encontraram quem procuravam, pois "querem" a mesma coisa de um
relacionamento. O conflito aparece quando o comportamento do outro não se
encaixa com a expectativa, fruto daquela decodificação; a primeira sensação é
de susto e depois, de medo.
A auto-responsabilidade é entender que as relações são
compostas de, no mínimo, duas pessoas; por isso, estão em jogo dois corações,
duas perspectivas e expectativas sobre o relacionamento proposto (crenças e
valores) e dois quereres.
É entender que adaptação e concessão são necessárias, mais
que isso é anulação. E quando há anulação de uma das partes ambos estão
sozinhos e não estão compartilhando uma relação. É a famosa solidão a
dois!
É entender que a premissa básica para estabelecer
companheirismo numa relação é a aceitação um do outro. E para aceitar o outro
como o outro é precisa, primeiramente, aceitar-se a si próprio. É,
principalmente, entender que ninguém - a não ser nós próprios - temos o poder
de nos fazer feliz!
Bom dia, Fernanda.
ResponderExcluirÉ mesmo.
A pessoa procura alguém parecido com a experiência anterior, e tudo se repete.
Essa vontade de modificar o outro, é mais comum nas mulheres. Parece que o nosso instinto maternal interfere, atrapalhando tudo, ou que trazemos em nós a culpa da "Eva", e queremos de alguma forma, nos redimir.
Esse amor condicional é muito difícil.
Um grande abraço.
Maria Auxiliadora (Amapola)
Um grande abraço para você também querida! Obrigada pela participação!
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