segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Goste das pessoas primeiro

::Kent Nerburn::

Craig, um grande amigo da faculdade, trazia energia e vida a qualquer lugar onde chegasse. Quando você falava, ele prestava tanta atenção que você se sentia incrivelmente importante. As pessoas o adoravam.

Certo dia ensolarado de outono, Craig e eu estávamos sentados em nossa área habitual de estudo. Olhei pela janela e vi um dos meus professores atravessando o estacionamento.
- Não quero esbarrar com ele - eu disse.
- Por que não? - perguntou Craig.

Expliquei que, no semestre anterior, o professor e eu tínhamos nos desentendido. Eu me ofendera com alguma coisa que ele tinha dito e ele, por sua vez, ofendeu-se com a minha resposta.
- Além disso, - acrescentei - o cara não gosta de mim.

Craig observou a figura que passava lá embaixo.
- Talvez você tenha entendido mal - ele disse. - Talvez você esteja se afastando porque tenha medo de ser rejeitado.
E ele provavelmente acha que você não gosta dele, então não é simpático. As pessoas gostam de quem gosta delas.
Se você mostrar interesse por ele, ele vai se interessar por você. Vá falar com ele.

As palavras de Craig foram direto ao ponto. Hesitante, desci as escadas até o estacionamento. Cumprimentei meu professor efusivamente e perguntei como tinha sido o seu verão. Ele me olhou com genuína surpresa. Caminhamos um pouco conversando, e eu podia imaginar Craig me olhando da janela com um grande sorriso.

Craig tinha me ensinado um princípio simples, tão simples que eu não podia acreditar que nunca tivesse pensado naquilo antes. Como a maioria dos jovens, eu era inseguro e começava todos os meus contatos com medo do julgamento dos outros - quando, na verdade, eles também estavam preocupados com o meu julgamento.

Daquele dia em diante, passei a me esforçar para reconhecer que os outros têm necessidade de estabelecer uma conexão e de compartilhar algo sobre suas vidas. Descobri um mundo de pessoas que nunca teria conhecido de outra maneira.

Uma vez, por exemplo, viajando de trem para o Canadá, comecei a conversar com um homem que todos evitavam porque ele cambaleava e enrolava a língua como se estivesse bêbado. Na verdade, ele estava se recuperando de um derrame.
Tinha sido engenheiro naquela mesma linha que estávamos percorrendo e passou a viagem me contando histórias fascinantes passadas naquela ferrovia.

Quando o trem foi se aproximando da estação, ele segurou a minha mão e me olhou nos olhos:
- Obrigado por ouvir. A maioria das pessoas não se daria ao trabalho - Ele não precisava ter me agradecido. O prazer tinha sido todo meu.

Em uma esquina barulhenta da cidade de Oakland, na Califórnia, uma família me parou pedindo indicações e descobri que eram turistas da isolada costa norte da Austrália. Perguntei-lhes como era a vida onde moravam. Em pouco tempo, tomando café, eles me deleitaram com histórias sobre lugares e costumes que eu nunca teria conhecido.

Cada encontro tornou-se uma aventura, cada pessoa uma lição de vida. Ricos, pobres, poderosos e solitários: todos tinham tantos sonhos e dúvidas quanto eu. E cada um deles tinha uma história única para contar, bastava alguém querer ouvir.

Um velho vagabundo com a barba por fazer me contou como tinha alimentado sua família durante a depressão, dando tiros de espingarda em um lago e recolhendo os peixes atordoados que flutuavam na superfície. Um guarda de trânsito me revelou como tinha aprendido seus gestos observando toureiros e maestros.
E uma jovem esteticista compartilhou comigo a alegria que sentiu ao ver os moradores de um asilo sorrindo depois que ela cortou e penteou seus cabelos.

Quantas dessas oportunidades nós deixamos passar.
A garota que todos acham feiosa, o menino de roupas esquisitas essas pessoas têm histórias para contar, assim como você, com certeza. E, como você, elas sonham com alguém que queira ouvir.

Foi isso que Craig me ensinou. Goste das pessoas primeiro, faça perguntas depois. Descubra que a luz que você projeta nos outros se reflete em você multiplicada por cem.

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