sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

12. Reverência perante a vida!

::Bert Hellinger::



Relacionamentos de casal têm a ver com a vida. Através do relacionamento de casal a vida é passada adiante. Mas de onde os casais têm a vida? A vida é deles? Ou ela apenas flui através deles? Ela flui através deles e vem de longe. Independentemente de como são o homem e a mulher, a vida flui através deles em sua plenitude. O homem e a mulher passam a vida adiante em sua totalidade, da mesma forma que a receberam em sua totalidade de seus pais, como os pais deles também a receberam de muito longe.

Então a vida independe de como são o pai e a mãe de uma criança. Sob este ângulo, podemos e precisamos olhar de outra forma para nossos pais, e os pais também precisam olhar de forma diferente para os seus filhos. Com reverência. O filho olha para os pais e olha através dos pais para um passado longínquo, de onde a vida vem originalmente. Quando toma a vida, toma a vida não apenas dos pais e sim de longe. Por isso, todos os pais são certos. Sob este ângulo não existem pais melhores e piores. Existem apenas pais.

Quando reconhecemos isso e a isso nos submetemos, podemos tomar de nossos pais a vida em sua totalidade. Porém, quem rejeita internamente um de seus pais, quem os acusa, fecha o coração diante da plenitude da vida. Recebe apenas uma parte ou, mais exatamente, toma apenas uma parte. Contudo, cada um de nós também é determinado de um modo bem específico através dos pais.

Tenho diante de mim a imagem de uma árvore. No outono o vento sopra e espalha as sementes. Uma semente cai na terra fértil, uma outra na terra cheia de pedras e cada semente precisa desenvolver-se onde caiu, não pode escolher o lugar. Da mesma forma nós também não podemos escolher nossos pais. Eles são o lugar de onde brota nossa vida, apenas aí. Independentemente de se a semente caiu em terra fértil ou em um solo cheio de pedras, ela se torna uma árvore de verdade e também dará frutos. A semente se espalha novamente, e a mesma árvore crescerá diferentemente, em lugares diversos.
Para que possamos realmente crescer, precisamos concordar com o lugar ao qual estamos vinculados, seja ele como for. Independentemente de ter “vantagens” ou “desvantagens”, cada lugar nos força a um desenvolvimento especial, tem chances especiais e coloca determinados limites. A vida é, tanto em um lugar como no outro, pura e autêntica.

Aplicarei isso agora ao relacionamento de casal. Um casal tem um filho. Nesse filho o marido e a mulher se unem e se tornam pais. Algumas mães dizem que o filho deve-se desenvolver segundo ela, e alguns pais dizem que o filho deve desenvolver-se segundo ele. O que acontece nesse momento? A vida não é respeitada, pois ela está certa tanto do modo que surge, através do pai, tanto do modo que surge, através da mãe. Uma vez compreendido tal fato, o pai ama a vida no filho também da forma que esta surge através da mãe, e a mãe ama a vida no filho também da forma que esta surge, através do pai, com todas as particularidades que um ou outro possui.

Isso é humildade. Fazemos uma reverência, respeitando a vida que vem do parceiro, diante da vida como um todo. Quando um homem ou uma mulher diz que a vida que vem dele ou dela é melhor do que aquela que vem através do parceiro, apodera-se da vida. Acredita possuí-la como algo pessoal e assim se eleva acima dela. Isso prejudica a sua alma, prejudica o relacionamento de casal e filho. Portanto, aqui nós respeitamos a vida.


Espero que todos tenham desfrutado os ensinamentos desse nosso mestre! Qualquer dúvida ou comentário que quiserem fazer entrem em contato: fermayoral@gmail.com
É sempre um prazer encontrar textos para compartilhar com vocês!! E voltem sempre que desejarem! Abraços, Fernanda.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

11. Amor perante a despedida

::Bert Hellinger::



Dois anos atrás esteve em um workshop um casal idoso. O homem tinha câncer com metástase e os dois tinham mais de 70 anos. Eles queriam constelar comigo a sua família. Eu pedi que viessem até mim e se sentassem ao meu lado, primeiro o homem e o lado dele a mulher. Então disse a eles: toda relação termina, ela existe apenas durante um tempo e chega a hora na qual precisamos nos despedir um do outro. Durante a relação nós nos exercitamos nesta despedida. Cada crise em uma relação de casal nos força a nos despedirmos de algo. Afinal. A relação de casal é sempre uma relação perante o morrer. Todo esse empreendimento – relação de casal – existe apenas porque a morte existe. Os pais têm filhos para que a vida prossiga, quando morrerem. O seu amor é sempre um amor perante a despedida e ela é dolorosa.

Mas nessa despedida algo especial está oculto. Quando vemos que uma relação é apenas uma relação temporária, então o tempo, com o qual somos presenteados, torna-se precioso. Quando isso é reconhecido e apreciado, a relação atinge uma profundeza especial. Então eu disse a esse casal: agora chegou a hora da despedida. A mulher chorava muito. Eu a convidei a olhar nos olhos do marido e a dizer: “Eu permaneço enquanto me é permitido. Eu amo você enquanto me é permitido. Eu cuido de você enquanto me é permitido.” E o homem olhou nos olhos de sua mulher e lhe disse: “Eu permaneço com você enquanto me é permitido.” De repente vimos um amor imenso entre os dois, a profundeza de um amor, raramente vista.

Assim, podemos transformar nossa tristeza em um amor muito especial. O companheiro também sente dor quando vê a dor no outro. E quando os dois dizem: “Eu permaneço com você enquanto me é permitido. Eu amo você enquanto me é permitido”, eles se curvam diante de algo maior, algo que está para além do amor e da vida, e o amor que sentem um pelo outro se torna especialmente precioso.


Atenção: Infelizmente nosso especial Relacionamento de casal está chegando ao fim. Amanhã postarei o último e mais importante dos textos -"Reverência perante a vida"- para fecharmos com chave de ouro esse ciclo! Aguardo a visita vocês amanhã!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

10. Ausência

::Bert Hellinger::



Estamos ausentes quando estamos presentes em algum outro lugar. Por isso a nossa ausência adquire o seu significado e o seu valor ou desvalor, pelo significado do valor ou desvalor de nossa presença. Essa ausência pode ser espacial, mental e interna. O clássico “cientista distraído” é ausente por estar presente de forma centrada em algum outro lugar.

O homem que deixa a sua casa de manhã e vai ao trabalho se torna tanto espacial como mental e internamente ausente de sua casa e família. Ao mesmo tempo, ele se torna presente em seu local de trabalho, seu trabalho e sua tarefa. Ele não esta completamente ausente de sua família, principalmente quando compreende o seu trabalho ou a sua tarefa como algo a serviço de sua família, então ela também está presente em seu trabalho, mais como pano de fundo, sem que o seu trabalho ou a sua tarefa sejam prejudicados. Quem sabe ela até estimule esse trabalho através de sua presença latente e ajude o homem a se concentrar mais.

Diferentemente do que quando a família está tão presente, que a presença do homem em seu trabalho e prejudicada, isto é, ele se torna mentalmente ausente por causa dessa presença, fato esse que pode ocorrer, por exemplo, quando está preocupado com sua família. Então a presença da família não prejudica apenas os seu trabalho, mas também a sua família, pois talvez o seu desempenho diminua e isso pode acarretar consequências graves também para a família se, por exemplo, perder o seu trabalho.

Pode ocorrer também o contrário: quando alguém que volta de seu trabalho se encontra ainda tão ocupado com ele, fica, embora parcialmente presente, mentalmente ausente em casa. Às vezes o parceiro, ao reconhecer amorosamente a presença do trabalho, consegue ajudar o outro a se tornar mentalmente presente em casa, para que consiga deixar o trabalho e as preocupações relacionados a ele, tornando-se assim mental e internamente presente na relação e na família.

Porém é diferente quando o trabalho é de um tipo que não permite a ausência, de forma que a presença em casa irá prejudicá-lo. Por exemplo, o caso de um médico, político ou algum outro tipo de pessoa que é responsável também por outros, por outras famílias. Aqui o parceiro pode, ao compartilhar a responsabilidade, apoiar o outro em sua ausência e, apesar de sua própria ausência, estar presente com ele.

O ideal da constante presença do parceiro e a experiência de que ele precisa estar presente o tempo inteiro, de que a sua presença tem prioridade em relação a tudo pode estar relacionado ao fato de que, no passado, o trabalho era apenas uma outra forma de presença também em casa, como por exemplo, em uma fazenda ou também no caso de muitos artesãos. Essa forma de presença constante é atualmente uma exceção. Se esse ideal é transferido para as condições atuais tão diversas, isso conduz, no caso dos parceiros, a expectativas que no podem ser satisfeitas, provocando decepções e sofrimento.

O problema se intensifica quando os dois parceiros assumem um trabalho e uma tarefa fora da família. Encontram-se assim não apenas grande parte do tempo, mas também mental e internamente afastados dos outros da família. Assim a família se desloca do centro da atenção, já que a profissão solicita mais do casal do que a relação e a família. “Mais”, não no sentido de valor, e, sim, no sentido de preparo mental, concentração, risco e responsabilidade. Enquanto as exigências da família e da relação se encontram no âmbito do trivial e no âmbito daquilo que está disponível a todos, o trabalho e as tarefas exigem frequentemente uma formação e experiência nem sempre acessíveis a todos da mesma forma. Por isso, esses dois fatores muitas vezes distinguem e separam as pessoas uma das outras ao invés de aproximá-las. Isso se torna evidente principalmente em parceiros que, para além de seu relacionamento e de sua responsabilidade como pais, estão ativos em profissões com tarefas diferentes. A sua ausência em relação ao outro se torna em função do tempo e de acordo com o sentimento, frequentemente maior e mais profunda do que a sua presença.

A pergunta agora é: como que a presença dos dois, tanto na relação quanto no trabalho e nas respectivas tarefas pode ser preservada e aprofundada, sem que um ou outro sofra com isso? Como é que os dois podem ser conectados através das duas coisas, de modo que a sua presença se intensifique tanto na família como na profissão, como também nas respectivas tarefas e responsabilidades? Na medida em que os dois se tornarem presentes em uma totalidade maior.


Atenção para a próxima postagem 24/02/2011 - Texto: Amor perante a despedida

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

9. Separação com amor

::Bert Hellinger::



Pergunta: Qual é a forma melhor e mais saudável de terminar um relacionamento?

Hellinger: Essa é uma pergunta importante. Tenho para isso um procedimento.

O primeiro ponto seria não procurar pela culpa, como se algo fosse depender da boa ou má vontade de cada um. Vimos aqui quantas influências do passado atuam (aqui ele fala dos laços familiares em que estamos emaranhados), e que cada um muitas vezes não sabe o que o impulsiona. Às vezes faço com um casal que quer ou precisa separar-se um pequeno exercício. Eu conto a eles uma história.

Um homem e uma mulher seguem felizes o seu caminho. A sua mochila está carregada de coisas boas e eles passam por jardins em flor e árvores repletas de frutos maduros. O sol brilha – e eles estão felizes. Então o seu caminho os conduz para uma montanha, as coisas se tornam mais difíceis e parte dos mantimentos que eles levaram é usada. No meio do caminho um dos dois se senta e está exausto. O outro ainda continua um pouquinho, então também os seus mantimentos acabam e ele se senta. Os dois olham para o vale, onde tudo foi tão bom – e começam a chorar.

O luto possibilita a separação, simplesmente a dor de não terem conseguido possibilita a separação. Então não existem mais acusações, apenas a dor. Através da dor podem se separar, mas podem se encontrar mais uma vez e se olhar nos olhos. Então o homem diz à mulher e a mulher ao homem: “Eu amei você muito e você me deu muito. Mantenho isso com amor e respeito. Também dei muito e você pode mantê-lo e respeitá-lo e lembrar-se disso com amor.” Depois o homem diz à mulher e a mulher ao homem: “Assumo a minha parte da responsabilidade por aquilo que não deu certo entre nós e deixo você com a sua parte. E agora deixo você em paz.” Este é um modelo para uma separação amororosa.


Atenção para a próxima postagem 23/02/2011 - Texto: Ausência

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

8. Vínculos

::Bert Hellinger::



Através da consumação sexual, isto é, a partir da plena consumação sexual – e isso significa a consumação e todos os seus riscos – forma-se um vínculo entre o homem e a mulher que é indissolúvel. Agora, talvez alguns vão dizer: isso é um ensinamento católico. Não se trata disso, pois o vínculo também se forma fora do casamento.

Então, não é o casamento que é indissolúvel e, sim, o vínculo entre um casal que se abriu para a consumação sexual, que é indissolúvel. Pode-se ver isso através do efeito. Após isso o casal não se separa mais. Quando eles se separam, podem fazer isso somente com muita dor e com um sentimento de culpa. Ninguém sai de um vínculo dessa qualidade sem culpa. Por isso o primeiro vínculo é o mais profundo.

Vínculos e amor não são a mesma coisa. Mais tarde alguém pode se envolver com um outro parceiro. Nessa relação o amor pode ser maior, o vinculo porém, é menor. Quando se separam, isso ocorre com menos dor e menos sentimento de culpa. Quando existe uma terceira, uma quarta relação, o vinculo se torna cada vez menor. Eles podem separar-se com mais facilidade. Após um tempo, a capacidade de se vincular praticamente se desperdiçou. Isso cessa.

Quando alguém se separa de forma leviana, então, mais tarde um filho se pune. Isso pode chegar a tal ponto que um filho se suicida como expiação para uma separação leviana. Não se deve brincar com isso.



Atenção para a próxima postagem 22/02/2011 - Texto: Separação com amor

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

7. Amor e Ordem

::Bert Hellinger::



Gostaria de dizer algo sobre o amor e a ordem. O que é maior e o que é mais importante? O amor ou a ordem? O que vem primeiro? Muitos acreditam que, quando se ama o suficiente, tudo fica em ordem. Muitos pais pensam que, quando amam os seus filhos o suficiente, esses se desenvolvem exatamente do modo que eles desejam. A maioria dos pais que pensam assim se decepcionam. O amor por si só, pelo visto, não basta.

O amor precisa se inserir em uma ordem. A ordem é prescrita no amor. Assim também acontece na natureza: uma árvore se desenvolve segundo uma ordem interior. Não é possível modifica-la. Ela pode se desenvolver apenas dentro dessa ordem. O mesmo ocorre com o amor e com as relações interpessoais: elas só podem se desenvolver dentro de uma ordem, e essa ordem é prescrita.

Quando sabemos algo sobre as ordens do amor, então o nosso amor e uma relação possuem a maior chance de se desenvolverem plenamente. Existem algumas ordens do amor. Uma delas demonstra que aquilo que é diferente possui o mesmo valor. Homens e mulheres são diferentes, porém possuem o mesmo valor. Quando o casal reconhece isso, o seu amor possui uma chance maior.

A segunda ordem é que o dar e o tomar precisa estar em equilíbrio. Quando um precisa dar mais que o outro, a relação está perturbada. Esse equilíbrio é necessário. Em relação ao equilíbrio, mais uma coisa precisa ser considerada: a necessidade de equilíbrio deve confluir com o amor para, a partir disso, a troca crescer.
Essa necessidade de equilíbrio também existe no sentido negativo. Quando um parceiro atinge o outro, o outro sente a necessidade de atingi-lo também. Ele se sente ferido em sua dignidade e por isso acredita ter o direito de ferir igualmente o outro em sua dignidade. Essa necessidade é irresistível.

Portanto, muitos que sofreram alguma injustiça sentem-se no direito de atingir o outro. Então a essa necessidade de equilíbrio acrescenta-se ainda o sentimento: agora possuo direitos especiais, através da injustiça que foi cometida contra mim possuo direitos especiais. Deste modo não atingimos o outro da mesma forma que nos atingiu, mas sim o atingimos um pouco mais. Devido ao fato de um ter atingido o outro um pouco mais, o segundo agora também se sente no direito de atingir o primeiro e, por se sentir no direito, ele irá atingi-lo mais ainda. Intensifica-se desse modo em uma relação a troca de algo grave e, ao invés de felicidade, cresce a infelicidade.

Pode-se reconhecer a qualidade de uma relação, conferindo se a troca acontece principalmente no bem ou no mal. E qual seria a solução? Existirá ainda alguma solução? Muda-se da troca de algo ruim para a troca de algo bom. E, como se faz isso?

Existe um segredo para isso: vingamo-nos do outro através do amor. Isso significa: atinge-se o outro, porém um pouco menos. Assim cessa a troca de algo ruim e os dois podem reiniciar uma boa forma de dar. Esse é um aspecto importante das ordens do amor. Quando se sabe disso, muito nas famílias pode retomar um rumo positivo.



Atenção para a próxima postagem 18/02/2011 - Texto: Vínculos

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

6. Dar e tomar na relação de casal

::Bert Hellinger::



Uma relação de casal dá certo quando o dar e tomar estão em equilíbrio. Tal modelo em uma relação de casal é a consumação sexual. Na consumação sexual um deseja e o outro concede, isso já ameaça o cerne da relação de casal. Os dois precisam igualmente desejar e conceder, dar e tomar.

Aquele que deseja encontra-se numa posição inferior, pois se apresenta como o necessitado. Quando o outro não está necessitado e apenas concede, se apresenta como aquele que dá, como o maior. Aí, no fundo, a relação de casal está no fim. Nesse nível precisa-se garantir primeiramente o equilíbrio pleno. Os dois precisam reconhecer primeiramente que são necessitados e que podem dar ao parceiro algo de especial. Só então existirá uma real consumação do amor.

Tendo isso como base e seguindo este modelo, também a outra troca entre o dar e o tomar precisa se consumar na relação do casal. Quando um diz: “Eu tenho um coração imenso, ele transborda de tanto amor” e cobre o parceiro com seu amor, sente-se grande: “Eu amo”. Mas o que acontece com o outro? “Ah, ele deve apenas tomar.” Então o outro não terá a oportunidade de devolver algo equivalente, independente do que possa doar, pois o outro, com seu suposto coração imenso, diz: “Eu tenho suficiente.”
No entanto, aquele que está sendo coberto com esse amor logo se zangará e não vai querer mais nada do outro.

Em uma relação de casal cada um pode dar apenas o que o outro é capaz de receber e devolver. Cada um pode tomar somente um pouco, jamais tudo. Por isso damos apenas o tanto que o outro pode tomar. Isso é novamente uma grande renuncia que educa o casal.

A troca em uma relação de casal se dá, por um lado, pela necessidade de equilíbrio, por outro, porém, também em função do amor pela outra pessoa. Nessa relação a necessidade de equilíbrio conecta-se com o amor. O que isso significa concretamente? Logo que um recebe ou toma algo do outro, sente-se em dívida e então também dá algo, mas não apenas a mesma coisa ou na mesma medida. Por amar o outro ele dará um pouco mais. É o que acontece na relação de casal. Quando se ama dá-se um pouco mais, porém apenas um pouco, senão a coisa se torna novamente perigosa. O outro toma o que é dado e também se sente em dívida e, assim, devolve algo ao outro. E novamente um pouco mais, pois ele o ama.

Esses muitos “poucos”, no final, conduzem à plenitude. Começamos modestamente e aumentamos o dar e o tomar passo a passo. Assim, cresce a felicidade em uma relação de casal. No entanto, isso tem uma grande “desvantagem”. Quanto mais o homem e a mulher se dão, mais difícil será uma separação, pois a troca entre dar e tomar une. Por isso quem almeja certa independência, quem pensa que aquele parceiro talvez não seja a pessoa certa, quem sabe exista algo diferente ou melhor; deve apenas dar e tomar pouco. Assim mantém certa liberdade, uma liberdade de trocar de parceiro.

Quando encontrar um parceiro novo ficará tão preso quanto antes. Quem sabe procurará por um próximo parceiro, também dará e tomará pouco de novo parceiro, na esperança de encontrar ainda um terceiro. Mas o terceiro parceiro percebe imediatamente que não dá para contar com essa pessoa. Assim o novo parceiro também lhe dará apenas um pouco e no final eles terão a grande liberdade – os dois permanecem sozinhos. Mas, o que se ganha com isso?

Um exemplo interessante sobre o dar e o tomar: Quando, em um casal, um dos parceiros ainda não concluiu a sua formação, e o outro paga, normalmente não existe mais a possibilidade de compensar tal coisa. Por isso, pode-se observar que aquele que recebeu tanto, muitas vezes deixa a relação, pois sem equilíbrio não há relação de casal, isso é uma lei.


Atenção para a próxima postagem 16/02/2011 - Texto: Amor e Ordem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

5. Os vínculos do Destino

::Bert Hellinger::




As dificuldades reais surgem quando o homem percebe subitamente que a mulher encontra-se, sem saber, emaranhada nos destinos de sua família de origem, e a mulher reconhece que o homem está, sem saber, emaranhado nos destinos de sua família de origem e que também precisam aceitar e reconhecer o outro com esse emaranhamento.

Há alguns anos atrás, dei um curso para casais em Koln. Ficou evidente que em vários casais um dos parceiros, desejava deixar o relacionamento e a família, embora o casal se amasse muito. Dessa forma revelou-se que os emaranhamentos fundamentais, que vêm à luz nas constelações familiares em relação à família de origem, influenciam também a relação de casal e que a solução para o casal se deva apenas quando esses emaranhamentos eram reconhecidos e dissolvidos.

Em primeiro lugar pertence a esse emaranhamento, quando alguém diz a um membro de sua família internamente: “Eu sigo você na morte”. Quando, por exemplo, na família de um dos parceiros, o pai ou a mãe morreu cedo, então um filho sente a necessidade de segui-los. Isso também se revela mais tarde, na relação de casal, talvez esse parceiro queira sair da família e partir.

Esse emaranhamento poderá também conduzir alguém na família a dizer: “Eu o faço em seu lugar”. Quando em uma família alguém diz a um outro membro da família, devido a um emaranhamento: “Eu sigo você na morte”, então um outro membro da família lhe diz: “Eu o faço em seu lugar”. Muitas vezes os filhos fazem isso pelos pais. Quando um filho percebe que um de seus pais deseja seguir alguém de sua família de origem, ele diz internamente: “Eu o faço por você”. Mais tarde, quando esse filho se casa continua sentindo esse ímpeto. Então um filho seu talvez lhe diga a mesma coisa: “Eu o faço em seu lugar”.


Atenção para a próxima postagem 15/02/2011 - Texto: Dar e tomar na relação de casal.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

4. A familia do Homem e a familia da Mulher

::Bert Hellinger::



Complicações surgem quando o homem precisa reconhecer que a família da mulher é diferente da sua família, e a mulher precisa reconhecer que a família do homem é diferente da sua e quando os dois precisam reconhecer que suas famílias de origem, apesar de diferentes, possuem o mesmo valor e são igualmente boas. Nesse momento os dois precisam despedir-se de vários julgamentos de valores que eram importantes em suas famílias.

A isso, porém, opõe-se uma instância interna poderosa. Essa instância é a consciência. Quem se liga a sua própria família e a toma como modelo é consciencioso. Quando, porém, reconhece a família do parceiro, que é diferente da sua, como equivalente e tão boa quanto a sua, sente-se frequentemente culpado diante da própria família. Enfim, o reconhecimento da outra família como equivalente e possuidora do mesmo valor exige que nós nos despeçamos de nossos ideais de valores, até então considerados os únicos certos, ampliando e desenvolvendo assim a nossa consciência.

Isso se torna especialmente importante para a educação dos filhos. A condição para que a educação dos filhos tenha sucesso e para que se sintam realmente felizes é que possam reconhecer as duas famílias de seus pais, tanto a do pai quanto a da mãe, como equivalentes e que, tanto os valores de uma família quanto os da outra, têm os mesmos direitos na educação dos filhos.

Novamente se trata de uma grande despedida, quando na educação do filhos o homem renuncia a impor os valores de sua família para não se opor àqueles de sua mulher, e quando a mulher renuncia a impor os valores de sua família para não se opor àqueles de seu marido. Quando conseguem isso, transmitem aos filhos algo mais amplo, em um nível mais elevado.


Atenção para a próxima postagem 09/02/2011 - Texto: Vínculos do destino

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

3. Homem e Mulher

::Bert Hellinger::




Infelizmente, como dizem algumas mulheres, o homem é diferente das mulheres.

Infelizmente, como dizem alguns homens, a mulher é diferente dos homens.

Homens e mulheres se distinguem em todos os sentidos. Por serem tão diferentes, falta-lhes algo que o outro tem ou é. O que falta ao homem é a mulher e, à mulher, é o homem. Os dois então necessitam reconhecer que são incompletos: o homem é incompleto e a mulher é incompleta. Eles se tornam completos através da relação de casal, ao reconhecerem que o outro, apesar de diferente, possui o mesmo valor e está à mesma altura. Isso significa que na relação de casal o homem e a mulher desistem da idéia de ser um melhor que o outro. Nesse momento os dois se tornam humildes, reconhecendo os seus limites. À medida que reconhecem mutuamente os seus limites, podem se unir a uma totalidade maior. Então vivenciam a relação de casal como algo preenchido e completo.

Quando o homem acredita que, no fundo, a mulher deveria tornar-se igual a ele, e a mulher acredita que, no fundo, o homem deveria tornar-se igual a ela, a realização lhes é negada. Quando um homem acha que agora encontrou a mulher certa e uma mulher acha que agora encontrou o homem certo, o que realmente acreditam ter encontrado? Algo parecido com eles. Dessa forma não podem alcançar a mesma plenitude alcançada por aqueles que precisam se admirar: “Realmente o outro é completamente diferente!” e, então, submetem-se e se expõem a isso.

Dizem que as diferenças entre os homens são mínimas e entre as mulheres também. O essencial é igual em todas as mulheres e em todos os homens. Concordando com isso nos tornamos mais capazes para uma relação de casal plena do que quando procuramos por semelhanças. Isso envolve simultaneamente uma renúncia, mas através dessa renúncia também crescemos. Essa foi a primeira parte, o lado mais simples da relação de casal, por assim dizer.


Atenção para a próxima postagem 08/02/2011 - Texto: A familia do Homem e a familia da Mulher.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

2. O relacionamento de casal

::Bert Hellinger::



O relacionamento de casal é o que existe de maior e mais importante. Todos nós viemos de uma relação de casal. Através dela a vida é passada adiante, aliás, é a condição para que a vida seja passada adiante. Por isso, na relação de casal estamos mais profundamente conectados com aquilo que leva o mundo adiante e o dirige. Essa força atua na relação de casal de forma especial. Nela estamos conectados com essa força.

O que mantém a relação a dois coesa é, em primeiro lugar, a consumação sexual do amor. Ela nos conecta profundamente com essa força, por isso também é algo espiritual. Podemos dizer que é algo espiritual e religioso.

Alguns desvalorizam a consumação sexual, considerando-a um instinto ou algo que se opõe ao espírito. Trata-se, porém, do contrário. O espírito frequentemente se opõe ao que há de mais profundo. Nesse sentido trabalhamos com o maior respeito pela relação de casal e por aquilo que a mantém coesa.

A relação de casal é o que mais nos molda. Somos educados através dela. Nela renunciamos passo a passo a nossas ilusões e, exatamente por isso, estamos ligados a algo maior.

Como se alcança essa ligação? Concordando com o mundo como ele é. Concordando com as diferenças como elas são. Despedindo-nos da idéia de uma coisa ser certa e outra pior ou errada. Nós nos desenvolvemos à medida que reconhecemos, no decorrer do tempo, que aquilo que a principio consideramos adverso é diferente sim, porém possui o mesmo valor.

Atenção para a próxima postagem 04/02/2011 - Texto: Homem e Mulher.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

1. O Segundo Olhar

::Bert Hellinger::



Quando um homem encontra a mulher pela qual se sente especialmente atraído, e quando uma mulher encontra esse homem e se sente atraída por ele, também de um modo especial, os dois são atravessados por um sentimento de felicidade até então desconhecido e por um desejo que deles se apossa totalmente. Eles sentem esse sentimento de felicidade e esse desejo como amor. Quando então o homem diz à mulher: “eu amo você”, e também a mulher diz ao homem: “eu amo você” eles se unem e se tornam um casal.

No entanto, será que esse primeiro amor que sentem um pelo outro, que confessam um ao outro é suficientemente forte para uma união duradoura, mesmo, que após um tempo, fique claro que os caminhos distintos, até então percorridos, se unem tão intensamente por um tempo ou, quem sabe, até por um longo tempo – quando deixam de ser apenas um casal e se tornam pais – e mesmo que esses caminhos, mais tarde, apontem para direções distintas? O que o homem e a mulher realmente sabem um do outro nessa exaltação do primeiro amor? O que eles sabem da escuridão que envolve a sua origem, o seu destino e sua designação especial? Quando aquilo que estava velado, até então, vier à luz, o que os ajudará para que o amor persista e sobreviva a essa realidade?

Sentimos que essa primeira confissão “Eu amo você” necessita ser complementada por algo mais. Algo que prepara o casal para esse estado mais abrangente, que o conduz para aquela amplidão e profundidade que o faz crescer para além desse primeiro amor. Uma frase que engloba esta dimensão maior e que os prepara para ela, seria: “Eu amo você e aquilo que guia a mim e a você.” O que sucede quando o homem diz à mulher e a mulher diz ao homem esta frase? De repente não olham apenas para si e para o seu desejo, olham para algo que está além deles. Mesmo que ainda não consigam compreender o que essa frase exige deles ou com o que de especial ela os presenteia, e ainda qual o destino que aguarda a cada um deles, separadamente e juntos – trata-se de uma frase que prepara e possibilita, após o amor à primeira vista, o amor à segunda vista.


Atenção para a próxima postagem 02/02/2011 - Texto: O Relacionamento de Casal.

Abraços e até amanhã!